Ao longo da sua história, a Internet foi palco de acirradas disputas comerciais, muitas delas com alcance global. Lembro particularmente de três muito marcantes: a dos provedores de Internet discada; a dos navegadores; e a dos buscadores. E agora tudo indica que estamos nos aproximando de uma quarta gigantesca disputa comercial na Internet, sobre a qual falarei mais à frente.

Em toda disputa comercial em que os produtos são relativamente parecidos, sem um diferencial competitivo muito destacado, a vitória pode vir através da frente da distribuição. Ganha aquele que tem o maior e melhor canal de distribuição. Às vezes, esse canal está dentro de casa, como parte do próprio grupo econômico. Outras vezes, é preciso formar alianças.

Na guerra dos provedores de Internet, ocorrida em meados da década de 1990, os competidores precisavam enviar para a casa dos consumidores CDs de instalação de seus softwares. Um dos caminhos foi buscar parceria com jornais e revistas para essa distribuição. Os CDs vinham encartados nas publicações. As bancas de jornais formaram a primeira rede de distribuição de acesso à Internet do Brasil. Naquele tempo, no Brasil, a disputa era entre AOL, UOL, Terra e afins.

Um pouco mais tarde, em torno dos anos 2000, começou a briga entre os navegadores de Internet. Esta, sem dúvida, de escala global. O Explorer, criado pela Microsoft, se aproveitou da liderança desta no segmento de sistemas operacionais para computadores pessoais. O Windows estava instalado na imensa maioria dos PCs ao redor do mundo, e o Explorer era o seu navegador padrão, que já vinha pré-instalado. Com esse canal de distribuição, foi difícil para os demais competirem. O Netscape, seu maior rival, foi perdendo força até sucumbir – mas depois acabou dando origem ao Firefox, que disputa até hoje esse mercado de navegadores. O Chrome, do Google, chegou um pouco mais tarde, mas se aproveitou do sucesso do seu criador para se estabelecer rapidamente, através da integração entre barra de navegação e barra de busca.

Por falar em mecanismo de busca, esse mercado chegou a ser bastante pulverizado no começo, com players como Altavista, Yahoo e MSN Search, além, claro, do Google. Havia até atores locais: quem se lembra do brasileiro Cadê? Nessa disputa, o Google prevaleceu, e o Bing, da Microsoft, ainda guarda uma pequena fatia de mercado.

A guerra da IA generativa

E agora uma quarta importante guerra comercial está começando no palco da Internet. Trata-se da disputa entre serviços de IA generativa. O ChatGPT leva vantagem por ter chegado primeiro e causado um grande impacto no mercado. O Google veio atrasado com o seu Gemini, mas carrega consigo a vantagem de ter os produtos do Google jogando ao seu lado, com destaque para o buscador homônimo, o navegador Chrome e o sistema operacional Android em smartphones. A OpenAI, criadora do ChatGPT, atraiu a Microsoft como investidora e levou sua tecnologia de IA para dentro dos serviços da big tech, incluindo seu buscador Bing. A Meta, por sua vez, embarcou a Meta AI dentro dos seus aplicativos, como o WhatsApp. Cada um desses serviços de IA tem qualidades diferentes, mas, na arena global da Internet, nem sempre vence o melhor, mas sim aquele com o canal que viabilize mais rapidamente a massificação do serviço. Pegue sua pipoca e vamos assistir aos próximos capítulos.

 

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