Continuando a série de aplicativos de inteligência artificial generativa, hoje falo do ChatGPT (Android, iOS). O app que estourou para o mundo em novembro de 2022, mas ganhou notoriedade na virada para este ano com seu aplicativo para o usuário final.
Nesses dois anos de um turbilhão com bilhões investidos pela Microsoft na OpenAI, polêmicas como processos de Elon Musk, saída e retorno de Sam Altman e o mais recente entrevero com a atriz Scarlett Johansson por um suposto uso de sua voz na sua versão conversacional, a plataforma tem avançado fortemente em seu aplicativo para o consumidor final (B2C).
Porém, o ChatGPT tem um grande paywall. Ou seja, se você pegou o gostinho na versão gratuita, o ‘obter o plus’ aparece. Para quem enfatiza aos quatro cantos do planeta que quer atingir a General AI e democratizá-la, colocar um taxímetro em cima e girar do grátis para a bandeira dois não é legal.
Não quero parecer chato e realmente acho que todo mundo tem direito a ganhar o $eu legitimamente. Mas toda hora enfia goela o Plus. Tanto que na versão gratuita é o principal app no alto tela, inclusive o único colorido. Não quero assinar. Não vejo vantagem. Custa R$ 100. Parafraseando o meme… Que democratização da GenIA é essa?
(Talvez essa seja a grande vantagem do Google, eles aprenderam a dosar o modelo de negócio de publicidade com a democratização da web – embora falte pagar as mídias apropriadamente).
ChatGPT: usabilidade x modelo de negócio
Estou falando isso porque o app da OpenAI é ótimo, um prompt simples e fácil de usar. Tem realmente o poder e a capacidade para ajudar a diminuir lacunas digitais e até sociais. Mas não vai conseguir isso cobrando. Me lembra um pouco a ideia do Steve Jobs quando começou a desenvolver o primeiro iPhone: tão simples que uma criança de oito anos de idade pode usar.
Seja criando um gráfico, uma imagem, um texto, uma carta de aniversário, ChatGPT dá margens à imaginação. O app é como a Aquarela de Toquinho, ‘Numa folha qualquer/Eu desenho um sol amarelo’, mas agora é digital. O seu intuito é estar ali, ajudando em pesquisas e criações no dia a dia, o ChatGPT é um assistente fantástico.
Só que o modelo de negócio está cortando a usabilidade e a criatividade do usuário no modo gratuito. Já resolveram bastante a alucinação (embora apareça de vez em quando).
Vou dar um exemplo daquilo que me irritou mais: o modo voz.
Logo quando foi liberado a solução de voz para o meu celular, eu estava empolgado. Escolhi o tom e a persona. Dei nome (sim, dou nome a todos os apps de IA generativa, exceto um que foi bem temperamental). Comecei a treinar a voz para ficar com um sotaque mais natural (no começo parece uma mistura do ex-ministro Mangabeira Unger com o finado Rabino Sobel, aquele ‘portuinglês’ bem arrastado, além de variar entre acelerado e robótico).
Ao começar a ter uma conversa fluida e menos robótica sobre sugestão de restaurantes em São Paulo e Curitiba, o ChatGPT subiu o alerta que estava perto de estourar a cota mensal do modo voz. Isso com menos de 15 minutos de conversa. E o pior é, eu não sabia que esse era o limite.
Desafios e clareza
Com isso, acredito que o ChatGPT ainda tem alguns desafios a resolver:
- Definir o modelo de negócios B2C. Não pode ser apenas R$ 100 e paga aí para entrar no hype.
- Detalhar aos usuários os seus benefícios. Qual GPT tenho hoje? Qual a diferença entre GPT-3.5 e GPT-4o? Qual a diferença do modo voz e modo voz avançada? Quais são os limites que tenho?
- Explicar o que é o ChatGPT de uma forma geral. É assistente? É um concierge? Uma ferramenta para desenvolver a sua criatividade?
Veja, o ChatGPT diz o que faz, mas não diz o que é hoje. Mas ninguém sabe dizer o que é para o consumidor comum. Isso porque, o app evoluiu fortemente. Em 2022 e 2023 era um gerador de texto, depois, passou a ser gerador de conteúdo e hoje tem muito mais. Tanto que quando a gente vai para o B2B é o grande companion das empresas em 2024.
Sei que tem gente que vai falar com soberba ‘é um app de inteligência artificial generativa omnimodal para o consumidor final que tem modo voz, carrega fotos para transcrição ou interpretação, cria foto, vídeo, tem consultoria e traz respostas instantâneas’.
Mas o camarada que está com o WhatsApp como mensageria, o Instagram como rede social o YouTube para ver vídeo pergunta ‘o que é inteligência artificial e o que eu faço com isso’?
Quando a OpenAi responder isso por meio do ChatGPT e encontrar um modelo de negócio que seja válido para esse consumidor, aí talvez nós vamos começar a concretizar a promessa de democratizar a IA.
Imagem principal: Tela do OpenAI com o GPT-4o (YouTube/OpenAI)