Quando comecei a trabalhar com jornalismo de telecomunicações, no início dos anos 2000, Miriam Aquino já era uma jornalista renomada. Durante meus primeiros anos como repórter da revista Teletime, no Rio de Janeiro, reconhecia Miriam como um dos nomes consagrados do setor, admirada por fontes, leitores e colegas de profissão.
Era raro encontrá-la, pois Miriam morava em Brasília. Mas eventualmente acontecia de a gente se cruzar em alguma coletiva importante ou em algum evento internacional, como o Mobile World Congress. Lembro que ela não se intimidava diante de executivos do alto escalão de grandes empresas. Muitas vezes era ela quem fazia as perguntas mais corajosas, sempre de cabeça erguida e sorridente. Sua combinação de alegria e coragem causava impacto.
A pandemia acabou nos aproximando. Em 2020, quando eu já liderava o Mobile Time e Miriam Aquino, o Tele.Síntese, foi criado o 5×5, grupo que incluía também os sites Convergência Digital, de Ana Paula Lobo; Teletime, de Samuel Possebon; e TI Inside, de Claudiney Santos. Eram cinco veículos independentes de tecnologia digital e telecomunicações que se uniram em uma campanha conjunta de apoio ao jornalismo especializado.
Primeiramente fizemos uma arrecadação conjunta de fundos da qual 54 empresas participaram e cujo banner foi exibido simultaneamente nos cinco sites por alguns meses. A receita foi repartida igualmente entre os cinco veículos e nos ajudou a enfrentar o começo da crise econômica provocada pela pandemia. Depois, criamos um evento virtual, chamado 5×5 TecSummit, que teve três edições (2020, 2021 e 2022), cuja programação e divulgação foram construídas pelos cinco jornalistas conjuntamente.
Por conta do 5×5, nos reunimos virtualmente inúmeras vezes ao longo de três anos. Nesses encontros, como caçula do grupo, aprendi muito com todos eles, mas talvez mais ainda com Miriam, pois era até então a mais distante de mim. Foi praticamente um MBA informal em gestão de projetos de eventos, e também em jornalismo. Aprendi muito também com a forma com a qual Miriam liderava sua equipe, e o cuidado e a preocupação que tinha com seus colaboradores.
O que antes era uma admiração distante por um nome consagrado do jornalismo especializado se transformou em amizade. Nas edições pós-pandemia do Mobile World Congress, virou tradição nos encontramos em Barcelona para jantarmos juntos ou passearmos. Da última vez, em fevereiro de 2024, no primeiro dia livre depois do congresso, eu, Miriam e Ana Paula Lobo viajamos juntos de carro para uma cidade litorânea da Catalunha chamada Sitges. Visitamos museus, almoçamos em um restaurante de comida catalã, conversamos sobre nossas vidas, nossas famílias, nossas empresas, caminhamos pela orla e voltamos no fim da tarde para Barcelona. A foto no fim deste texto foi tirada nessa viagem.
A última vez que encontrei Miriam foi no Painel Telebrasil, em Brasília, em novembro passado. Ela seguia alegre, como sempre, e deixou combinado que faríamos um novo passeio pós-MWC em 2025. Pena que o destino quis diferente.
Lamento tê-la conhecido melhor já tão tarde, mas vou lembrar para sempre do seu estilo inspirador de fazer jornalismo: com alegria e coragem.
Miriam Aquino, Ana Paula Lobo e Fernando Paiva em Sitges, na Espanha, em fevereiro de 2024, após o MWC (Crédito: Fernando Paiva)
