A decisão da Anatel de destinar parte da faixa de 6 GHz para serviços móveis, com a sua inclusão no Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequência (PDFF) e a previsão de leilão até o fim de 2026, esquentou novamente o debate entre Wi-Fi e telefonia celular. Entidades que representam provedores de Internet, como Abrint e Neo, defendem que a faixa inteira fique com Wi-Fi (1200 MHz ao todo). A Abrint criticou a agência reguladora, afirmando que a divisão do espectro com telefonia móvel representaria uma “morte lenta” para o Wi-Fi e um retrocesso na inclusão digital do país. Do outro lado, a GSMA rebate o argumento de que o Wi-Fi seria uma tecnologia mais democrática do que a rede móvel no desenvolvimento da inclusão digital do país.

“Discordamos fortemente desse argumento. Existe a ilusão que o Wi-Fi é grátis. Mas alguém paga por ele. Alguém paga pelo acesso fixo, pelo roteador etc. Alguém está provendo aquele acesso”, explica Luciana Camargos, head global de espectro da GSMA, em conversa com Mobile Time.

A executiva lembra ainda que boa parte das pessoas das classes D e E acessam redes Wi-Fi pelos seus celulares quando estão no trabalho. Mas em casa não contam com banda larga fixa e dependem de planos de dados móveis. No seu entender, o acesso por Wi-Fi em redes de terceiros não empodera as pessoas, ao contrário do acesso móvel, que está disponível o tempo inteiro, em todo lugar.

Espectro suficiente para Wi-Fi

Para a GSMA, os 500 MHz previstos pela Anatel na parte de baixo da faixa de 6 GHz para uso não licenciado são mais que suficientes para o desenvolvimento do Wi-Fi. Camargos lembra que esse pedaço pode ser combinado com a faixa de 5 GHz, já destinada para uso não licenciado. Para tanto, bastaria trocar roteadores de padrões antigos de Wi-Fi que hoje operam em 5 GHz por modelos novos de Wi-Fi 6E e 7.

Camargos lembra ainda que 500 MHz é mais do que qualquer operadora móvel já recebeu em um único bloco.

Resto do mundo

Levantamento feito pela GSMA indica que até agora 11% dos países optaram por destinar a faixa de 6 GHz inteira para uso não licenciado (leia-se Wi-Fi). Os EUA estão nesse grupo. Por outro lado, na última Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23), países que representam 60% da população global pediram que parte da faixa seja destinada a serviços móveis, incluindo Europa e México. No ano passado, Hong Kong foi o primeiro a realizar um leilão da parte superior da faixa de 6 GHz para telefonia celular.

A proposta da Anatel é deixar 500 MHz para uso não licenciado e 700 MHz para serviços móveis, em linha com o que está sendo desenhado em outros mercados que querem dividir a destinação da faixa. A parte destinada a uso licenciado em 6 GHz provavelmente servirá para as futuras redes móveis de sexta geração (6G), cujas primeiras implementações comerciais no mundo são esperadas para 2030.

A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA.

 

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