Todos os meses, milhões de brasileiros enfrentam uma verdadeira maratona para pagar as contas. Após receber o boleto, é preciso ir até uma agência bancária ou lotérica e enfrentar filas para fazer a quitação. Ainda podem ocorrer problemas inesperados, como extravios e paralisações dos funcionários das empresas de entrega de correspondência. Se por qualquer motivo, como uma viagem longa ou até mesmo um esquecimento, o consumidor não pagar a conta até o dia do vencimento, ele ainda pode ter que emitir a segunda via para efetuar o pagamento, o que é sempre uma dor de cabeça.

Os números saltam aos olhos. Cerca de 3,6 bilhões de boletos são gerados anualmente no Brasil, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Impostos, mensalidades escolares, planos de saúde e de seguro, e contas de consumo das concessionárias como água, energia, gás e telefonia são as principais verticais geradoras de boletos. E há um espaço enorme para o crescimento dos pagamentos eletrônicos. Por exemplo, segundo dados do Merchant Segment Study (MSS) da Euromonitor de 2019, a penetração do pagamento digital nas contas de educação e de utilidades (luz, água, gás) são bem baixas,  8,3% e 15,1% respectivamente.

Mas não pense que esse caso é exclusividade do Brasil. Fintechs do mundo todo perceberam como este contexto é estratégico e começaram a desenvolver iniciativas para facilitar o pagamento de contas. Para se antecipar a esse novo panorama, o programa Consumer Bill Payments Services (CBPS) tem regras que possibilitam que fintechs possam explorar estes segmentos em condições específicas, levando benefícios diretos ao consumidor.

Como isso se dá na prática?  O consumidor cadastra os dados de seu cartão de pagamento uma única vez em uma plataforma web ou um aplicativo e os boletos são quitados automaticamente todos os meses. É um procedimento bastante semelhante ao dos aplicativos de transporte. Assim, o consumidor usufrui de uma experiência simples, conveniente, rápida e transparente, sem se preocupar mais com o vencimento das suas contas ou a cobrança de multas ou juros por atraso, o que pode até acarretar cortes nos serviços. Como as contas estão centralizadas em um único meio de pagamento, é possível ter acesso a todo histórico das despesas, permitindo a comparação dos gastos atuais com os anteriores, o que possibilita maior controle financeiro – mais um dos benefícios que a tecnologia pode oferecer. Sem falar que o uso do cartão também pode propiciar acesso a eventuais benefícios como acúmulo de milhas, cashback e pontos do cartão, que normalmente podem ser trocados por outros produtos e serviços.

O Brasil, um dos países mais avançados em tecnologia de pagamento, saiu mais uma vez na frente e foi um dos primeiros no mundo a implementar o programa CBPS. Já vemos startups com aplicativos que permitem pagar as contas por meio do cartão de crédito e, futuramente, de débito. Esses serviços contam ainda com o que há de mais tecnológico quando o assunto é segurança e inovação na indústria, soluções como tokenização, 3DS 2.0 e sistemas antifraudes. A beleza desse movimento é que a tecnologia pode transformar o mercado, o que seria muito difícil de fazer em um segmento com mais de 200 concessionárias, sem contar os serviços de educação, saúde, impostos, etc.

O pagamento de contas deve acompanhar as mudanças tecnológicas da revolução digital, impulsionando ainda mais o crescimento da área de expansão de aceitação. Esse mercado novo e estratégico abre um leque de oportunidades e ganhos para todos os envolvidos. Os consumidores contam com uma experiência facilitada que permite o planejamento financeiro e o aumento de benefícios nos programas dos cartões. Emissores e credenciadores podem expandir seus negócios ao trazer mais consumidores para o mercado virtual. Por sua vez, as empresas contam com a opção de reduzir despesas com a impressão da papelada. Com uma opção bem mais simples em relação ao boleto, o pagamento de contas se transforma em uma leve caminhada, onde todos são vencedores. Muitas vezes, gastamos tempo e dinheiro em um mercado altamente competitivo e esquecemos de olhar as oportunidades do oceano azul.

 

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