O avanço da inteligência artificial (IA) é um assunto onipresente nos dias de hoje. Os investimentos em IA são da ordem dos bilhões de euros e abrangem setores que vão do mercado financeiro à medicina, da indústria automotiva à educação. Mas todo esse frenesi nem sempre se reflete em uma implementação significativa — em muitos casos, em vez de nos preocuparmos em encontrar respostas corretas, ainda estamos tentando descobrir quais são as perguntas a ser feitas.
Como exemplo, podemos citar aqui o campo da educação e do ensino de idiomas. Atualmente, o uso de tecnologia e de IA no processo de ensino tem sido feito de forma simplista, concentrando-se em como levar a informação correta, no momento certo, a um aprendiz receptivo. Ao empregar a tecnologia como um meio de transmissão, e não como uma ferramenta capacitadora, essa abordagem da arte de ensinar e aprender tem se mostrado bastante reducionista.
A realidade é diferente. O processo de aprendizagem — assim como os próprios seres humanos — é complexo. Para dominarmos um novo idioma, precisamos não só de vários anos de estudo, mas também de diferentes formas de contato com a língua que está sendo aprendida: um curso bem estruturado, oportunidades de ler, escrever e conversar com falantes nativos nesse novo idioma. No entanto, esses são apenas alguns dos fatores a ser levados em consideração quando o objetivo é criar uma experiência de aprendizado o mais rica possível. Além do mais, precisaríamos de um lugar seguro para praticar nossas novas habilidades linguísticas e, eventualmente, de um treinador (robô ou humano) que nos desse ânimo e inspiração para seguir aprendendo. Esse treinador seria uma mistura de professor de idiomas, técnico de futebol e líder de torcida ao mesmo tempo. Aprender um novo idioma nunca é fácil. Precisamos de um guia entusiasmado que nos faça persistir até alcançar nosso objetivo
O que devemos ter em mente na hora de criar tecnologia de IA?
O que torna a IA algo tão mágico é sua capacidade de aprender com dados que já existem. Mas isso pode ser algo bom, como no caso de identificar com precisão um câncer a partir de uma radiografia, ou ruim, como no caso do chatbot da Microsoft, que, poucas horas depois de ter sido lançado, entrou em contato com fóruns de discussão on-line e passou a emitir mensagens de cunho nazista e obsceno.
Para que a IA seja empregada de maneira eficaz, é necessário uma compreensão acurada dos dados que serão usados e do problema a ser resolvido. Afinal de contas, a IA não entende conceitos como ética, filosofia ou ensino. Por meio da análise de dados, ela apenas observa como decisões anteriores foram tomadas e replica essas mesmas ações quando confrontada com novos dados.
Quando se trata de empregar IA, é fundamental ter muito cuidado com os dados de origem e as decisões finais a ser tomadas. Esse cuidado é uma tarefa bastante humana. Ou seja: ironicamente, para ter um funcionamento adequado, a IA precisa de intervenção humana.
Será que os robôs vão substituir os professores?
David Thornburg disse certa vez que, “se um professor puder ser substituído por um computador, então é porque ele merece”.
Bom, é claro que essa afirmação é bastante provocadora. No entanto, se você é o tipo de professor que gasta todo seu tempo marcando provas e distribuindo folhas com exercícios, talvez devesse se preocupar, pois essas tarefas manuais são exatamente o que a tecnologia consegue fazer de melhor. Os professores do futuro estão descobrindo como trabalhar com as tecnologias atuais para criar uma experiência de aprendizado ainda mais rica para todos os alunos.
Hoje em dia, graças à IA, já contamos com chats de voz com assistentes virtuais capazes de simular conversas. Amanhã, esses chats serão aulas personalizadas, adaptadas às habilidades de cada aluno.
O sistema de educação tem um papel importantíssimo no que diz respeito ao desenvolvimento e à integração dessas novas tecnologias. É essencial que os professores participem dessa transformação de forma ativa. No futuro, para permitir que o ensino extrapole os limites da sala de aula, os professores deverão ser capazes de misturar abordagens pessoais e digitais. (Isso já é realidade em algumas escolas ao redor do mundo.)