Os mercados de telecomunicações da América Latina possuem enormes diferenças entre si: taxas de penetração, adoção de serviços e níveis de consumo. Entretanto, em uma das áreas onde tradicionalmente se encontravam as maiores divergências que durante os últimos 18 a 24 meses se observaram iniciativas similares: a regulamentação. Os entes reguladores da América Latina parecem ter decido em uníssono que o número de operadoras móveis em seus respectivos mercados é muito baixo e por isso devem buscar alternativas que permitam a proliferação de novos competidores.

Idealmente, a primeira alternativa é a entrada de um novo operador disposto a investir em infraestrutura e lançar sua própria rede. No entanto, a ausência de interessados em leilões realizados no Brasil, na Colômbia e no México descarta essa opção para mercados com alta taxa de penetração móvel e operadoras estabelecidas com forte poder econômico para enfrentar a competição. Diante dessa situação, ressurge pela terceira vez na região o modelo de operadora móvel de rede virtual (MVNO, na sigla em inglês).

O incompreensível no modelo de MVNO é o hiperbólico otimismo sobre o mesmo que parece ter contagiado setores variados da indústria.Estamos distantes de quando o mercado via a Cotas Móvil, da Bolívia, como um estranho mostrengo. A realidade hoje é diferente e até países como Brasil e Chile adotaram uma legislação específica para regular esse modelo de negócios.

Um dos problemas para o desenvolvimento de MVNOs na América Latina, e mais especificamente no caso do Brasil, é que pensam que a existência de uma regulamentação imediatamente se traduzirá em êxito desse modelo com numerosas operadoras virtuais lançando serviços no curto prazo. Poucos querem se lembrar que há cerca de cinco anos uma lei similar foi aprovada no Chile, onde mais de dez licenças foram entregues mas apenas uma se materializou em MVNO: GTD.

Não há dúvida de que Brasil é um mercado que oferece muitas oportunidades para o desenvolvimento de MVNOs. Mas é preciso ter em conta que as condições de mercado do país são muito distintas daquelas da Europa de dez anos atrás. Por exemplo, quando Virgin Mobile UK iniciou suas operações, a taxa de penetração móvel no Reino Unido era de 48% e a oferta das operadoras se concentrava em serviços de voz.

Nos EUA, além de uma taxa de penetração menor, o crescimento da Tracfone (maior MVNO do mundo, com 19,3 milhões de usuários) foi sustentado na oferta de um modelo de tarifação até então inexistente naquele mercado: o pré-pago. Apesar do ambiente competitivo favorável e de mais de uma década de operação, nenhuma dessas MVNOs possui 10% de participação de mercado. Na França e na Espanha, todas as operadoras virtuais juntas somam 10% de market share.

O sucesso das MVNOs no Brasil dependerá de dois fatores básicos: o segmento de mercado que escolherem focar e o entendimento de seus investidores de que terá uma participação de nicho. As MVNOs devem ser criadas para complementar unidades de negócios já existentes. Em outras palavras: incrementar o valor da oferta de produtos já oferecidos, independentemente de serem de telecomunicações, de um supermercado ou de um banco.

Uma vez entendido que o crescimento será moderado e que o valor percebido pelo cliente justifica deixar de lado os serviços de Vivo, Oi, Claro ou TIM (para mencionar aqueles com cobertura nacional), então podemos considerar que haja espaço para modelos de negócios com possibilidade de êxito em um ecossistema móvel cada vez mais centrado em serviços de dados. Acreditar que as MVNOs crescerão apenas com preços baixos ou simplesmente vendendo SIM é ignorar a dinâmica do mercado e tentar repetir os erros de outras operadoras móveis virtuais que não tiveram muita sorte, como, por exemplo, a equatoriana Alegro e a colombiana Uff Móvil. Por último, lembrem-se que Virgin Mobile teve sucesso no Reino Unido e nos EUA, mas em Cingapura fechou suas portas com apenas um ano de vida.

 

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