Toda startup nasce com um propósito comum: ser disruptiva. A razão de ser desse tipo de negócio é quebrar o status quo em busca de soluções diferentes e mais eficientes às necessidades das pessoas. Em um país como o Brasil, que sempre teve uma atenção muito grande – e necessária – à proteção dos interesses dos trabalhadores, alguns formatos acabam sendo questionados e criando polêmicas.
Não quero dizer que uma startup é uma instituição que tem o direito de atuar de forma ilegal, mas ela exerce um papel muito importante na sociedade que é justamente questionar modelos que são regulamentados por legislações ultrapassadas e que podem oferecer barreiras para a forma como vivemos atualmente e às nossas novas necessidades. São essas startups que colocam uma luz sobre a legislação, e muitas dessas regulamentações já foram modernizadas graças a este estímulo.
Quando falo em estímulo à mudança da legislação, não significa que esse movimento tenha como único propósito beneficiar as empresas, mas sim beneficiar toda a sociedade, inclusive trabalhadores e consumidores.
Por exemplo, nossa Constituição Federal é de 1988. Nos últimos 30 anos, a tecnologia e a própria sociedade se transformaram muito mais do que nos 100 anos anteriores à nossa Carta Magna.
Quando uma startup disruptiva nasce, ela cria um modelo de negócio e, consequentemente, de trabalho, sempre em busca de atender a uma demanda do mercado, encontrar soluções que ainda não existem a necessidades comuns. Algumas pessoas vão encontrar no serviço oferecido algo que realmente faça a diferença na vida delas, seja como cliente ou colaborador, contudo é totalmente normal que outras pessoas não se identifiquem, e essas discussões são saudáveis e importantes.
No caso de empresas como a Uber, Rappi e iFood, os entregadores concordaram com um modelo que foi estudado e criado para que aquele serviço consiga existir. Para alguns, o tipo de relação com essas startups pode não funcionar como gostariam e nascem os debates, negociações, etc.
No entanto, o que é extremamente importante entendermos que tentar encaixar uma startup dessas dentro de um modelo tradicional pode fazer com que o formato deixe ser viável. Quando isso acontece, aquela solução mais eficiente às necessidades dos consumidores e a oportunidade de uma nova forma de trabalho não serão aperfeiçoadas, na verdade, elas passarão a não existir.
Costumo propor uma provocação simples que ajuda a despertar a compreensão do ecossistema das startups. Por exemplo, optaríamos por usar um Uber se ele custasse para o passageiro o mesmo valor ou mais caro que o Taxi? Se uma entrega delivery nos custasse o mesmo ou mais que o próprio prato, nós usaríamos o serviço? Eles ainda existiriam?
Normalmente relacionamos inovação a uma solução completamente nova, criada do zero. Mas a inovação acontece em vários níveis, desde uma inovação que compete apenas a empresa, como uma pequena alteração em um processo interno que levou a uma melhoria de tempo, gerando economia para a empresa, até uma inovação disruptiva que muda o conceito da população mundial sobre algo. É importante lembrar que uma startup não precisa obrigatoriamente ser inovadora ao nível de disrupção, caso contrário não terá sucesso. O importante, na minha visão, é sempre buscar entregar mais e melhor para o cliente, independente do nível de inovação, melhorando e inovando sempre.