Como simplificar a vida digital? Em um tempo de calendários lotados de reuniões virtuais, caixas de entrada transbordando e a constante atração de mídia social, notícias e aplicativos como Netflix e Spotify, pode parecer que a forma como se gasta o tempo online não depende de você.

Quando Steve Jobs anunciou o iPhone em 2007, seu principal argumento de venda foi que o dispositivo combinava o iPod com o telefone, eliminando a necessidade de transportar dois equipamentos. O que ele nunca imaginou foi a ideia de que os smartphones pudessem ser como um computador, onde o som de uma notificação rouba a atenção das pessoas. Confesso que eu, lá pelo ano de 1996 quando os primeiros dispositivos PalmPilot começaram a ser vendidos, já imaginava que um dia o computador caberia em um bolso e que isso transformaria o mundo.

Segundo dados da pesquisa WeAreSocial, o Brasil é o segundo país no mundo quando o assunto é o uso do smartphone. São, em média, 5 horas e 17 minutos diários e 150 milhões de usuários nas redes sociais.

Só que mais pessoas começam a se sentir um pouco incomodadas com a quantidade de tempo que se passa olhando para as telas. E assim, começamos a questionar a suposição de que estar hiperconectado é uma coisa totalmente boa.

Mas há uma maneira de usar a tecnologia sem acabar se tornando um escravo dela. Aí entra em cena o Minimalismo Digital. Apresentado pela primeira vez pelo professor de ciência da computação Cal Newport em seu livro de mesmo nome (Digital minimalism: choosing a focused life in a noisy world), o Minimalismo Digital é uma filosofia de uso da tecnologia baseada no entendimento de que nosso relacionamento com os aplicativos, ferramentas e telefones merece mais atenção do que damos.

À medida que a tecnologia e a Internet se tornam uma parte cada vez maior de nossas vidas, seu potencial para nos distrair do que realmente importa aumenta. E o movimento digital minimalista é uma resposta direta a essa ameaça.

É uma chamada à ação para observar e pensar sobre o relacionamento com a transformação digital, com atenção especial sobre quanto tempo e atenção é preciso dar à tecnologia e quais são as compensações dessa decisão.

Como então trilhar e evoluir em um caminho em busca do minimalismo digital? Quando se precisa parar de tomar um remédio controlado, por exemplo, não é de uma hora para outra. Há um ‘desmame’ lento, gradual e evolutivo. O mesmo acontece com a adoção do minimalismo digital.

O primeiro passo está na escolha e na intenção. O uso da tecnologia continua, mas apenas o que se deseja e somente de maneira que se conecte aos seus valores. Ao invés de checar as notificações do seu WhatsApp a cada cinco ou 10 minutos, deixe o smartphone longe e veja apenas de meia em meia hora. É tudo uma questão de hábito.

A etapa seguinte está na otimização das ferramentas utilizadas. O que você permite em sua vida precisa funcionar e ser saudável. Isso significa separar o bom do mau. Uma rede social só traz dores de cabeça e aborrecimentos? Simples, saia dela!

Finalmente, há a aceitação de que você não estará em todos os lugares o tempo todo. As empresas de tecnologia sobrevivem com FOMO (Fear of Missing Out) – o medo de perder algum movimento ou novidade. Mas os minimalistas digitais ficam felizes em perder as coisas que sabem que não trazem valor para suas vidas.

O uso da tecnologia deve ser intencional, não habitual. E como a conexão à Internet é poderosa, disponível e barata, se torna viciante. Para nos protegermos, é preciso cultivar uma mentalidade intencional do uso da tecnologia. Isso significa usá-la com propósito, não por hábito ou rotina.

Um dos motivos porque é fácil se perder é porque a tecnologia é um meio poderoso de alívio emocional de curto prazo. Quando se está entediado, chateado ou cansado é reconfortante enfiar a mão no bolso e se perder no Instagram ou em outras redes sociais que fazem parte do nosso dia a dia.

Apesar da promessa perpétua de nos tornar mais conectados, o minimalismo é uma saída para sair do isolamento e desconexão com outras pessoas. Está na hora de voltar a velhos hábitos, hoje até esquecidos por alguns.

Qual foi a última vez que você brincou com seus filhos, assistiu a um show e não o filmou, viu o pôr do sol ou comeu algo apetitoso sem fotografar, por exemplo?

 

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