Poucas marcas de tecnologia conseguiram estabelecer um vínculo tão afetivo com os brasileiros quanto a Embratel. O anúncio do fim da marca, após 60 anos de história, não é apenas uma decisão estratégica — é também o encerramento de um ciclo que, para muitos de nós, remete a infância, chamadas internacionais e imagens de sistemas de rádio, e antenas parabólicas gigantes em paisagens como Morungaba-SP.

Na minha memória, a Embratel sempre foi sinônimo de conexão com o mundo. Era por meio dela que falávamos com parentes que estavam fora do Brasil — no meu caso, as ligações para meu tio que mora no exterior. Era a ponte, a conexão entre o Brasil e o mundo, à Televisão ao vivo, em um tempo em que isso ainda era raro e caro. Para quem viveu as décadas de 70, 80 e 90, Embratel era quase um sinônimo de “comunicação de verdade”. Não à toa, chegou até a entrar na música brasileira — como em Solidão que nada, de Cazuza.

Poucas marcas têm esse privilégio: fazer parte da cultura e da memória afetiva de um país. Após a privatização, a Embratel passou por profundas transformações. Aos poucos, deixou de ser uma marca popular para se especializar em soluções de telecomunicações e tecnologia de alta complexidade voltadas ao mercado corporativo. Tornou-se distante do grande público, mas eficiente. Uma marca estratégica para o funcionamento de empresas, governos e serviços críticos.

Essa transição blindou a Embratel dos problemas de imagem que afetam grandes operadoras de telecom: quedas de serviço, falhas no atendimento, erros em faturas. Ela operava em outro campo, mais técnico, menos visível — mas altamente relevante.

Agora, a marca será integrada à Claro, como parte da estratégia do grupo América Móvil de unificar suas operações no Brasil. A Claro, aliás, também é fruto da consolidação de outras marcas — de operadoras móveis e da NET, no mercado de banda larga fixa.

É uma mudança  compreensível do ponto de vista de negócios. Mas não deixa de ser um risco.

A marca Embratel carregava prestígio, discrição e confiança — atributos que podem se diluir sob um guarda-chuva mais amplo e exposto. A integração certamente exigirá uma comunicação clara (sem trocadilhos) com o mercado e um esforço genuíno para manter a qualidade e a confiabilidade que os clientes empresariais esperam.

Despeço-me da marca com respeito e certa nostalgia. E fico na torcida para que essa mudança represente não apenas uma simplificação de marcas, mas também uma oportunidade de evolução nos serviços, no atendimento e na experiência dos clientes — sobretudo do segmento
corporativo.

 

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