Conectado e mutável, o mercado hoje exige que as empresas repensem com mais frequência a forma como geram e entregam valor. No fim, a tão chamada disrupção digital é isso: constantemente surgem modos de satisfazer as necessidades do consumidor, e novas empresas passam a ocupar o lugar daquelas que já estavam previamente estabelecidas.
Um exemplo disso é o Standard & Poor’s 500, uma lista que reúne as maiores companhias de capital aberto dos Estados Unidos. De acordo com um estudo realizado pela McKinsey, consultoria global de gestão, nos anos 50, a vida útil das organizações presentes no índice era de 61 anos. Atualmente, as empresas listadas permanecem no índice apenas 20 anos. Caso esse cenário persista, estima-se que 75% dos nomes que ocupam uma vaga no S&P em 2021 não estarão mais lá até 2027.
Nessa dinâmica, a tecnologia desempenha um papel central, pois facilita o surgimento de novas propostas de valores, habilita o sucesso de novas estratégias e formas de organização empresarial. E aquelas companhias que vêm se destacando possuem algo em comum: o seu modelo de negócio baseado em ecossistemas.
Uma abordagem baseada na exploração de ecossistemas externos
Anteriormente, as empresas de sucesso costumavam exercer controle absoluto sobre essa geração de valor, seguindo uma abordagem linear. No entanto, atualmente, a dinâmica é completamente diferente. A maioria das organizações líderes de mercado adota uma abordagem baseada na exploração de ecossistemas externos, tanto para criar valor, quanto para rentabilizar seus ativos. Mas, como elas conseguem fazer isso? A resposta está no uso estratégico de APIs.
Como conectores que permitem que diferentes partes trabalhem harmoniosamente, as Application Programming Interfaces (Interfaces de Programação de Aplicações, em tradução livre) representam a maneira pela qual as principais organizações trocam valor no mundo digital atual. É por meio dessa tecnologia que é possível criar cadeias de valor cada vez mais circulares e menos lineares.
Por exemplo, um aplicativo de delivery não desenvolve o sistema de mapeamento e logística para encontrar o entregador mais próximo e mostrar o caminho, assim como não desenvolve o sistema de pagamento ou de avaliação do restaurante. Ele apenas integra na própria proposta de valor serviços ofertados por outros parceiros externos de forma padronizada e aberta. Essa integração inteira é realizada por meio de APIs.
Contudo, não basta apenas utilizar essa tecnologia em momentos pontuais. O mercado exige que as empresas pensem em seus serviços a partir do uso desses sistemas, ou seja, criem estratégias já pensando nelas como ecossistêmicas, modulares e escaláveis. Assim, não se trata apenas de uma tecnologia a ser implementada, mas sim de uma jornada de transformação.
Este conceito é aplicável a todas as empresas, independentemente de serem conservadoras ou não. Em outras palavras, não se limita apenas às companhias de tecnologia, mas sim de todos os setores da economia. Por mais que atualmente grande parte das empresas bem-sucedidas já se beneficiam de ecossistemas externos e compartilham essa característica em comum.
Composable Business como princípios da transformação
Uma estratégia essencial para as empresas atualmente é a composability, que permite que elas saiam de uma experiência de produtos e aplicações estáticas e monolíticas, e usem a ideia de diferentes blocos de construção para dividir tarefas maiores em menores, evitando tocar toda a estrutura.
Isso permite um ambiente ágil, em que as organizações podem seguir de forma assertiva. Portanto, uma arquitetura de composable business é uma extensão desta premissa: um conjunto de componentes modulares independentes que podem ser construídos para formar um sistema completo.
Nesse cenário, para poder construir novos serviços e/ou sistemas por meio da “montagem” de componentes (building blocks) já existentes, a arquitetura de composable facilita e agiliza a adoção da inovação, assim como a criação de novos produtos/soluções a partir de componentes existentes.
Portanto, quando uma empresa tem modelos de business ecossistêmicos que fazem parte da geração de valor, ela pode ser readequada e reconfigurando de forma ágil. Deste modo, é possível que a companhia se adapte e adote mudanças para evoluir sua proposta de valor e permanecer relevante no mercado.
A transformação traz desafios
Diante da transformação, um dos desafios primários é cultural. Portanto, é fundamental que a empresa repense a forma como desenha seus produtos e serviços, desdobrando-os em componentes funcionais autônomos. Em termos gerais, é importante considerar o modelo de negócio da companhia e decidir o que deve ser mantido internamente e o que pode ser compartilhado em ecossistemas externos.
Sob o ponto de vista da arquitetura técnica habilitante, a organização precisa acelerar de forma gradual a modernização de TI (composable business), tanto na arquitetura de software (Microsserviços, API, Cloud Native e Front End/Back End Decoupling), assim como na arquitetura de dados, já que, em geral, nas organizações, os dados são compartilhados em sistemas core, enquanto, sempre que possível, cada componente componível (Building blocks) deveria ser “proprietário” do próprio dado.
Tendo isso em vista, é evidente que trata-se de uma jornada em que os pilares que dão a largada para traçar o rumo dessa viagem são o nível de maturidade da organização e os objetivos e necessidades do negócio.
Fica claro, então, que, na atualidade, em que a transformação digital desempenha um papel determinante no sucesso ou fracasso das empresas, a utilização de APIs torna-se imperativa para atender às necessidades do consumidor.
Portanto, cabe às companhias investir e atender a essa demanda em tempo, a fim de manter competitividade e relevância – ou irão se tornar obsoletas.