Depois de muita discussão, finalmente o governo leiloou as frequências do 5G. Muito já foi dito sobre o impacto do 5G na vida de pessoas e empresas. Trata-se de uma tecnologia que promete um salto de evolução na maneira como nos comunicamos e deve impulsionar nos próximos anos o surgimento de novos negócios digitais, habilitados por uma nova infraestrutura baseada em pilares como as altas larguras de banda, alta confiabilidade e baixa latência. Para que isso aconteça, porém, será preciso superar diversos obstáculos relacionados à infraestrutura.
As redes 5G estão sendo testadas em diversas cidades do mundo. Esses testes têm apontado alguns desafios para sua implementação em larga escala – que se tornam ainda maiores num país com dimensões continentais com o Brasil.
Antena
Um dos grandes desafios é a cobertura e disponibilidade de serviço. Os obstáculos a serem superados para a entrada em operação das faixas de 3,5GHz são maiores do que foram para as redes 3G e 4G. Pensando puramente na propagação do sinal nessa faixa, sabemos que os alcances do rádio enlace serão menores, trazendo a necessidade de mais células para cobertura, principalmente para novas redes que possuem somente esta faixa de frequência para cobertura. No entanto, quando a rede em operação já possui serviços em outras faixas com as gerações anteriores, é possível a implementação de algumas funcionalidades que contribuem para a expansão da cobertura 5G, previstas na padronização do 3GPP. Dentre elas podemos destacar o Dual-Connectivity (conexão dupla) que permite que o dispositivo móvel opere simultaneamente nas redes 4G e 5G, de forma a usar uma banda de frequência baixa com serviço 4G para fazer a conexão uplink, enquanto faz somente o downlink pela rede 5G apresentando um ganho interessante de cobertura. E ainda, uma combinação Dynamic Spectrum Sharing (DSS, do inglês compartilhamento dinâmico de espectro) aplicado às atuais redes 4G com o Carrier Aggregation (agregação de portadoras) no 5G tornará possível à rede 5G utilizar, quando necessário, recursos das faixas de frequências baixas das redes 4G dinamicamente, para que a cobertura venha a ficar próxima do que a rede 4G tem hoje. Desta forma, os desafios de cobertura serão grandes e a complexidade da gestão das redes móveis será ainda maior.
As redes 5G serão significativamente mais complexas do que as redes atuais com arquiteturas abertas, modelos de virtualização e com soluções na nuvem. As novas antenas 5G e o hardware RAN, embora potentes, cobrem significativamente menos espaço em comparação com as macrocélulas 4G existentes. Isso significa que uma cobertura semelhante requer mais hardware 5G e software de suporte – um número que se multiplica ainda mais à medida que o tráfego se move em ambientes fechados.
Uma grande cidade pode precisar de uma antena em cada interseção principal, ou mais perto, para tornar a rede operacional. Para endereçar este problema, os engenheiros precisarão projetar uma infraestrutura 5G de baixo custo, capaz de se misturar à infraestrutura existente e operar nas frequências adequadas para uma cidade.
Fibra
Outro desafio importante da infraestrutura de rede 5G será a necessidade de substituir as conexões de fibra óptica. As velocidades sem fio serão tão rápidas quanto a conexão com fio com a qual ele se comunica. Portanto, as conexões mais lentas precisarão ser substituídas.
Com largura de banda massiva em tecnologia 5G, será necessário fibra mais densa para redes fronthaul, midhaul e backhaul. O backhaul de fibra é uma parte importante para fornecer um melhor desempenho e experiência de rede.
Custos e manutenção
Manter os custos de operação e manutenção baixos é outro desafio que as empresas de telecomunicações devem enfrentar. Adicionar o hardware necessário para redes 5G pode aumentar significativamente as despesas operacionais (OpEx). Claro, esses custos vão além do próprio hardware. As redes devem ser configuradas, testadas, gerenciadas e atualizadas regularmente – atividades que aumentam exponencialmente o OpEx.
Pensando nesses e em outros desafios para a implementação do 5G, alguns governos já estão estruturando programas para agilizar a chegada da cobertura 5G aos municípios. Em São Paulo, o programa Conecta SP conta com investimento de R$ 3 milhões para incentivar os gestores municipais a modernizar legislações locais de antenas para a nova tecnologia – aspecto fundamental para a rápida implantação do 5G.
No intuito de garantir a implantação 5G com sucesso nas redes CORE e RAN, é fundamental desenvolver a arquitetura relacionada à TI e plataformas para suportá-la. A arquitetura wireless 5G não é tão simples quanto parece. A estrutura rica em recursos torna o 5G mais complexo do que nunca. O manuseio dessa rede exige uma equipe experiente com bom conhecimento da tecnologia. Aqui entram tecnologias como analytics, bancos de dados, Machine Learning, Realidade Virtual/Aumentada, IoT, cloud, RPAs até a cibersegurança.
Embora o 5G tenha seu próprio conjunto de vantagens, a sua implantação demanda um grande investimento. As operadoras enfrentarão esses desafios da infraestrutura 5G dividindo-a em implantação fase a fase à medida que consigam evoluir em paralelo com casos de uso comerciais para consumir toda essa infraestrutura e prover retorno sobre este investimento. O outro fardo para as empresas do setor é o custo do equipamento de teste 5G necessário para uma análise extensiva da rede, como verificação do “cell site” e avaliação de KPIs do usuário, como teste de velocidade, teste de voz e chamada, teste HTTP e muitos mais antes de disponibilizá-lo para os usuários comerciais.