A busca por conectividade ubíqua sempre foi um desafio para a indústria de telecomunicações. Atualmente, as redes móveis terrestres já conectam 5,8 bilhões de pessoas, ou 70% da população mundial, segundo dados do GSMA.

As redes móveis não terrestres, ou Non-Terrestrial Networks (NTNs), consistem em prover conectividade a partir do céu, seja por meio de satélites geoestacionários (GEO), de média (MEO) ou baixa órbita (LEO), via plataformas de estações de altas altitudes, ou High Altitude Platform Stations (HAPS), ou drones no sentido amplo do NTN. As NTNs prometem eliminar as barreiras geográficas, tornando o acesso à internet verdadeiramente global, com potencial para fornecer acesso às redes móveis para os 30% restantes da população mundial não conectada.

A promessa dessas redes é clara: superar limitações de infraestrutura e oferecer cobertura onde antes era impensável. Este tema está sendo amplamente discutido no setor e foi um dos destaques do Mobile World Congress (MWC) 2025, reforçando a relevância para o futuro da conectividade.

As comunicações via satélite estão em uso há décadas, mas, historicamente, adotaram um modelo de negócios baseado em soluções proprietárias para sistemas de comunicação bidirecional. Com a padronização das redes móveis NTN pelo 3GPP, duas grandes indústrias que antes atuavam de forma independente, passaram a convergir: as operadoras de redes móveis e a indústria de satélites. As operadoras tradicionais não possuem expertise no lançamento de satélites, enquanto as empresas especializadas nesse segmento não detêm o espectro necessário para operar diretamente. Esse impasse vem sendo solucionado por meio de parcerias estratégicas, com acordos que começam a viabilizar a comunicação direta entre satélites e smartphones. A padronização possibilita ganhos de escala, reduzindo os custos para o consumidor final. Exemplos internacionais mostram que essa tecnologia já está em implementação, embora ainda não tenha sido amplamente disponibilizada ao público.

O céu como infraestrutura

Se os satélites já são uma aposta para ampliar a conectividade, as HAPS surgem como uma alternativa ainda mais flexível. Aeronaves não tripuladas, movidas a energia solar, sobrevoam de 15 a 20 quilômetros de altitude, funcionando como estações radiobase móveis. Além de cobrirem grandes áreas, da ordem 50 km de raio, sem depender da topografia do solo, esses dispositivos possuem a função adicional de observabilidade com aplicações como sensoriamento remoto e monitoramento ambiental. Algumas empresas, incluindo uma startup brasileira, já se movimenta para desenvolver sua própria versão dessa tecnologia.

Um salto tecnológico impulsionado pelo 5G e 6G

consolidar ainda mais no futuro com o 6G. Entre os principais diferenciais e serviços, destacam-se: i) o roaming transparente entre redes terrestres e não terrestres. Por exemplo, um veículo que se desloca para fora da cidade, onde não há cobertura terrestre, e faz um handover para a rede não terrestre de forma transparente, sem interrupção da conectividade; ii) o NTN Narrowband Internet of Things (NB-IoT), com dispositivos IoT comunicando diretamente via satélite; e iii) o Direct 2 Device (D2D), que consiste na comunicação direta entre o smartphone e um satélite de baixa órbita, sem a necessidade de equipamento ou antena adicional.

No padrão atual, essas soluções já são adotadas em testes e projetos-piloto, mas a expectativa é que, na próxima geração de conectividade, essa convergência se torne uma premissa básica para o funcionamento global dos serviços.

Ainda que essa abordagem seja promissora, há desafios a serem superados. Questões regulatórias, custo de implementação e disponibilidade de terminais compatíveis precisam ser endereçados para que essas tecnologias se tornem viáveis em grande escala.

O impacto dessas inovações vai além da ampliação da conectividade. Elas têm potencial para realizar a inclusão digital das pessoas não conectadas e transformar setores inteiros, como logística, agricultura e gestão de desastres naturais. Em locais onde a infraestrutura tradicional não chega, esses avanços podem garantir comunicação em tempo real, impulsionando a economia digital e proporcionando novas oportunidades de desenvolvimento.

A implementação dessas novas tecnologias representa um marco para a conectividade global. Embora ainda haja barreiras a serem vencidas, os avanços já demonstram que a mobilidade digital está cada vez mais próxima de uma nova era, onde a localização geográfica não será mais um obstáculo para o acesso à informação e aos serviços digitais.

 

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