A onda da mobilidade a que estamos assistindo atingiu o mundo corporativo como um tsunami de desafios e novas possibilidades. No Brasil, 36% dos celulares ativos são smartphones. Um em cada quatro habitantes acessam internet pelo celular e 82% dos donos desses aparelhos os utilizam no trabalho. A computação está no bolso dos usuários. Sua ubiquidade e recursos inovadores exigem que as empresas de software repensem a forma como entregam valor a esses usuários. Mas, para isso, é preciso que seja feito um planejamento de como levar seus sistemas para o mundo móvel. Não basta apenas produzir novas versões de suas aplicaç&otild e;es, é necessário repensar conteúdo e forma: o que será entregue e como essa entrega será arquitetada.
Por isso, apresento um conjunto de informações que merecem atenção especial por parte das empresas de software no momento de planejar sua presença móvel.
Entenda que estamos em um mundo novo
A maioria dos sistemas corporativos foi concebida para ser utilizada dentro do ambiente da empresa, utilizando-se de sua infraestrutura e, principalmente, através de computadores de mesa convencionais. Muitos paradigmas não se aplicam ao mundo móvel. Existem muitas restrições como tamanho de tela, poder de processamento, disponibilidade de conexão e vida útil de bateria.
As formas de interação homem-máquina são diferentes. Telas sensíveis ao toque substituem mouse e cursor. Câmeras estão disponíveis. Sensores de movimento e posicionamento, como o GPS, acelerômetro e giroscópio, surgem para permitir novas formas de interação. Recursos como notificações podem ser explorados para enviar mensagens à aplicação instalada no aparelho. A complexidade dos grandes sistemas precisa sair de cena e dar espaço a funcionalidades fáceis de serem utilizadas, simples e diretas.
Relevância em cada contexto
Os perfis dos seus usuários e o processo de trabalho de cada um desses perfis precisam ser entendidos profundamente. Segmentar os perfis pode ajudar a eliminar funcionalidades irrelevantes para cada caso. É necessário fazer um verdadeiro doutorado em como os usuários se comportam. Esse conhecimento é necessário para identificar o que é relevante no contexto móvel, ou seja, o que deverá ter presença móvel.
Sistemas corporativos são repletos de formulários extensos e processamentos de longa duração, inviáveis de serem disponibilizados em celulares. O entendimento do dia a dia dos usuários irá ajudar a decidir quais dessas funcionalidades estarão no mundo móvel, quais deverão ser redesenhadas e quais outras novas precisam ser criadas.
Devem-se encontrar respostas para as perguntas: onde ele utilizará a aplicação? Quando ele utiliza a aplicação? O que ele está fazendo quando utiliza a aplicação? Quais objetivos ele pretende alcançar?
Dica: analise a aplicação e as necessidades dos usuários na forma de processos de trabalho.
Modelo de negócio
Define a estratégia de monetização, ou seja, a forma como os serviços móveis irão impactar as receitas da empresa. O modelo de negócio é importante, pois ele irá embasar a definição da arquitetura, a estratégia de distribuição e outros aspectos técnicos, como integração com sistemas de parceiros, tecnologias empregadas etc.
Tire proveito das inovações de cada plataforma
Cada aparelho traz consigo uma série de inovações de hardware, que podem ser exploradas para melhorar a experiência do usuário e otimizar as suas tarefas. Identifique como tirar o melhor proveito de cada um desses recursos, quando disponíveis, para inovar e surpreender.
O recurso de localização via GPS, por exemplo, pode ser explorado por sistemas de vagas de emprego, para buscar oportunidades em locais próximos ao candidato.
O tratamento de gestos, possibilitados pelas telas multitoque, pode economizar vários passos na interação do usuário com a aplicação. Um tratamento de gestos bem pensado pode substituir vários cliques. Nesse sentido, existe muito espaço para otimização das rotinas de trabalho.
Sistemas de notificações ativas (Push Notifications) podem ser usados em softwares de fluxo de trabalho (workflows) para notificar os usuários sobre novas tarefas atribuídas a eles ou sobre alterações de dados no sistema servidor.
Respeite o que é específico de cada plataforma
Cada plataforma possui seus recursos e padrões e os usuários sabem quando um aplicativo foi feito especificamente para o seu aparelho. Criar uma aplicação Android empregando padrões de interface do iPhone, por exemplo, irá prejudicar a percepção de qualidade do usuário, além de exigir que ele se adapte a uma cultura diferente da empregada pela sua plataforma. Em contrapartida, adaptar-se à plataforma diminui a curva de aprendizado, pois o usuário estará em um ambiente já dominado.
Defina uma arquitetura
É importante definir a forma como as aplicações irão comunicar com a base de dados da empresa. Nessa etapa, decisões técnicas possuem um peso muito grande, pois afetam o custo de manutenções futuras. É também nessa etapa que são identificadas camadas adicionais da aplicação ou alterações em código já existentes. Componentes novos poderão ser criados.
Deve-se definir também qual a abordagem tecnológica para a implementação. As principais vertentes são aplicativos nativos, desenvolvidos com linguagem e ferramentas específicas de cada plataforma: Web aplicativos, que empregam HTML5 e tecnologias relacionadas (Javascript, CSS etc.), compatíveis com a maioria dos dispositivos, ou abordagens híbridas, que combinam os aplicativos nativos com contedo HTML5.
Existe muita discussão entre os profissionais da área sobre qual a melhor alternativa. Fatores como know how técnico prévio, curva de aprendizado, manutenabilidade, estratégia de distribuição, recursos da plataforma necessários, entre outros, devem ser dosados no processo de decisão.
Estratégia de distribuição
Define como a aplicação será distribuída ao usuário final. Se será através das lojas de aplicativos (Apple App Store, Google Play, Windows Phone Marketplace), que é largamente o mais utilizado, ou instalação direta pelo departamento de TI ou pelo próprio usuário, utilizando infraestrutura interna.
Desenvolver ou terceirizar?
Por exigir conhecimentos diferenciados, muitas empresas optam por terceirizar a etapa de produção com empresas especializadas. Essa estratégia, no entanto, encontra barreiras no fato de que, por ser um mercado novo, o nmero de empresas especializadas em tais serviços ainda é limitado. Por outro lado, desenvolver dentro de casa traz o desafio de encontrar profissionais qualificados, o que também não é tarefa fácil.
Adaptar-se ao mundo móvel não é apenas replicar as funcionalidades dos sistemas atuais nas telas de smartphones e tablets. Não basta apenas criar um aplicativo para iPhone ou Android. A empresa deve ter uma visão integrada das várias plataformas e dos sistemas atuais, percebendo os novos paradigmas gerados, absorvendo a cultura dos usuários de tais aparelhos e traduzindo esse planejamento em serviços móveis que entreguem valor real aos seus usuários.