A Copa do Mundo acontece de quatro em quatro anos, intervalo capaz de separar eras inteiras na história da telefonia móvel. A cada edição do maior torneio de futebol do planeta há sempre alguma novidade tecnológica em ascensão envolvendo as redes celulares. Não raro, os anfitriões gostam de exibir o que há de mais moderno nesse aspecto para o mundo.
A Copa da França, em 1998, foi a primeira com redes GSM implementadas. Na época, o envio de SMS era a grande sensação e começavam a surgir os primeiros serviços de conteúdo através de mensagens de texto, incluindo, claro, os alertas de gol. A Copa do Japão e da Coreia, em 2002, por sua vez, foi a primeira com redes 3G em operação comercial. Em 2006, na Copa da Alemanha, aparelhos celulares com câmera eram a vedete da vez. A Copa de 2010, na África do Sul, foi a primeira com iPhones, smartphones Android e aplicativos móveis. No Brasil, em 2014, pela primeira vez havia redes 4G em funcionamento para quem assistisse às partidas nos estádios. Ficou conhecida também como a Copa dos Selfies, por causa da profusão de telefones com câmeras frontais e da moda do autorretrato digital.
Este ano, na Rússia, as operadoras apresentaram redes 4,5G e os torcedores adotaram um novo hábito: a transmissão de vídeos ao vivo, de dentro e de fora dos estádios, incentivados pela presença dessa nova funcionalidade em variados apps de redes sociais, como o Facebook e o YouTube. Foi a Copa do streaming, dizem especialistas.
Em 2022, o Qatar vai sediar provavelmente a primeira Copa do Mundo com redes 5G. Isso significa velocidades acima de 1 Gbps para download e latência abaixo de 1 ms. A expectativa é que seja uma copa “imersiva”, com o advento de serviços de realidade aumentada e realidade virtual. Mas que serviços serão esses? Uma possibilidade é a venda de ingressos virtuais, para assistir a partida do ponto de vista dos torcedores, de vários pontos do estádio, vendo imagens em 360 graus transmitidas por câmeras instaladas ao redor da arquibancada. Será possível “sentir” à distância o calor dos torcedores, inclusive ouvindo seus cânticos, captados por microfones acoplados a cada câmera. Também será possível trocar de “assento” no estádio, mudando para atrás do gol na hora de um pênalti, ou trocando de torcida ao sabor da partida, estando lado a lado dos vencedores e dos perdedores, no intervalo de um clique. Tudo isso sem sair do sofá de casa, usando um óculos de realidade virtual. Só não vai dar para abraçar desconhecidos na hora do gol.
Eu tive a chance de experimentar uma aplicação de realidade virtual em uma rede 5G no laboratório da Vivo, no Rio de Janeiro, na semana passada. Vesti óculos de VR e luvas com sensores que captavam os movimentos da minha mão. No teto, oito câmeras de alta definição filmavam uma bola que eu segurava. Pelo óculos eu via a representação da bola e das minhas mãos, em um cenário virtual. As representações acompanhavam em tempo real os movimentos da bola e das mãos de verdade. Na mesma sala, havia outra pessoa vestindo os mesmos equipamentos. Conseguimos brincar de jogar a bola um para o outro vendo apenas a representação dela e das nossas mãos no óculos. Isso só é possível com a alta velocidade e a baixa latência do 5G.
Se a tecnologia seguir avançando desse jeito, na Copa de 2026 talvez nem os jogadores precisarão entrar em campo. Vão poder jogar futebol de suas casas, substituindo as chuteiras por óculos de realidade virtual. E o controle da arbitragem passará a estar todo nas mãos, ou nos olhos, do famigerado VAR.