A pandemia do novo coronavírus trouxe inúmeros desafios à educação em todo mundo. No Brasil, em especial, temos uma situação bem complexa: além da suspensão das aulas presenciais desde o início da quarentena em meados de março, a nossa profunda desigualdade se acirrou ainda mais nestes tempos difíceis. A tecnologia, por outro lado, entrou como um grande alicerce para conter um déficit educacional possivelmente desastroso na vida escolar das crianças. Mas, ainda assim, é preciso supervisão, e sobretudo, que os adultos estejam na linha de frente na condução do uso de dispositivos eletrônicos pelas crianças.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, por mais que a tecnologia possa contribuir no processo de aprendizagem e entretenimento de qualidade das crianças – quando mediada por adultos –, é preciso lembrar que as recomendações sobre uso de telas na formação e desenvolvimento da primeira infância são restritivas. Vale elencar algumas de suas principais recomendações sobre o uso das telas pelas crianças de 0 a 5 anos:
=> Evitar a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, mesmo que passivamente;
=> Para crianças com idades entre 2 e 5 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão;
=> Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir;
=> Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar. A classificação indicativa pode ser acessada no site do Ministério da Justiça.
O mau uso da tecnologia pode levar a inúmeras consequências danosas às crianças, seja pelo acesso a conteúdo inadequado, ou mesmo, pelo tempo excessivo de exposição às telas. Entre os efeitos nocivos, especialistas em educação já diagnosticaram: distúrbios de aprendizagem, baixo desempenho escolar, atrasos no desenvolvimento, dependência digital, problemas de saúde mental (irritabilidade, ansiedade e depressão), problemas de coordenação motora, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos do sono e alimentação (sobrepeso e anorexia), entre muitos outros.
Já especialistas em desenvolvimento infantil defendem que as experiências no mundo real devem sempre ser priorizadas. Conversar, ler, brincar com seu filho e permitir que ele se movimente livremente irá ajudá-lo a desenvolver habilidades linguísticas, cognitivas e físicas, bem como a percepção visual. Mas é claro, estamos na era da tecnologia, e podemos tirar proveito de soluções digitais também para a educação, integrando papel auxiliador com a mediação e repertório apropriado para cada faixa etária; algumas dicas valiosas:
=> Acompanhar as crianças e ajudá-las a compreender o que estão consumindo. Fazer perguntas ajuda nessa compreensão, além de fortalecer os laços afetivos entre os pais e a criança;
=> Ajudar a criança a relacionar o que está vendo na tela com objetos e situações da vida real;
=> Evitar sons muito altos ou cores muito brilhantes na tela;
=> Evitar situações em que a criança interaja com telas sem supervisão;
=> Interações bidirecionais são mais valiosas, pois facilitam a aprendizagem e as interações sociais. Utilize as telas como aliadas: plataformas como Skype e FaceTime têm ajudado as famílias a se comunicarem em tempos de isolamento social;
=> Evite a atenção passiva. Os bebês aprendem melhor quando estão ativos. Por isso, ao consumir conteúdo digital, busque aplicativos apropriados, que sejam educativos, divertidos, com conteúdos que possam ser relacionados à vida real da criança e que estimulem as interações face a face.
Concluindo, a tecnologia pode, sim, ser benéfica no dia a dia das famílias; basta estarmos atentos às recomendações de especialistas para aproveitarmos o que há de melhor, sem prejudicar o desenvolvimento das crianças. Além disso, as inovações na educação trazem consigo a capacitação qualificadora, auxiliando pais e educadores a promover interações de qualidade com bebês e crianças.
A educação pode, sim, estar a um clique – com a vasta oferta de soluções digitais, aplicativos e plataformas de edtechs para todos os níveis de aprendizagem; mas quando o recorte é a primeira infância, é nosso compromisso como sociedade adequar, elaborar, mediar e fazer parte da entrega de conteúdo. Tecnologia alguma substitui o fator humano tão imprescindível para o melhor desempenho da aprendizagem e do acompanhamento dedicado à educação de crianças pequenas.