A demanda por profissionais de tecnologia já se tornou um lugar-comum, é verdade. Mas isso não significa que a tendência demonstra sinais de enfraquecimento. Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), até 2025, serão necessárias 797 mil pessoas nesse campo para dar conta da demanda atual. No entanto, percebemos um déficit anual de 106 mil talentos.

Se analisarmos o cenário superficialmente, claro, podemos dizer que simplesmente a maior capacitação da mão de obra e um melhor investimento na formação de profissionais poderiam ser suficientes. Porém, quando nos aprofundamos no tema, nos deparamos muitas vezes com questões de caráter mais social do que técnico, principalmente no que diz respeito à participação de mulheres no mercado de tecnologia.

Para se ter uma noção do que estou querendo dizer, no Brasil, a parcela feminina representa apenas 20% dos profissionais do setor, de acordo com o IBGE. Uma realidade extremamente preocupante. E esse dado fica ainda menor à medida que buscamos sobre a atuação das mulheres em setores específicos, como TI e telecomunicações, nos quais apenas 7% da força de trabalho brasileira é feminina, de acordo com um estudo da empresa de pesquisas online YouGov Global Profiles. E os números do Brasil, ainda assim, superam a média de 6% da América Latina.

Para mudar essa situação, é preciso dar alguns passos atrás e observar a base do mercado: a construção do conhecimento. O último Censo da Educação Superior, publicado pelo Inep no ano passado com informações de 2019, mostra que as mulheres representaram somente 14,8% dos concluintes de cursos superiores de graduação em Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Fatores como o estigma de que mulheres não se interessam por tecnologia, a cultura que existe em algumas empresas, que incluem, por exemplo, a diferença salarial entre gêneros, podem ser considerados como desmotivadores – e isso nos mostra que ainda há importantes obstáculos a serem vencidos.

No entanto, há mudanças positivas a serem celebradas. Conforme levantamento da consultoria KPMG, as mulheres já vêm ocupando 16% dos cargos de liderança no setor de tecnologia na América Latina, superando a média global de 11%. O estudo aponta que o maior número de programas específicos para levar mulheres ao setor da tecnologia e o crescimento de startups e outros negócios ligados à ciência, engenharia e matemática foram as duas principais alavancas desse resultado. Além disso, 21% das mulheres latino-americanas que trabalham em TI e Telecom afirmaram ter o que pode ser considerado uma alta renda, chegando a ser mais de 200% da média da realidade de seus países. Em outros setores, as mulheres com alta renda não superam 9% da população.

Todos estes dados nos mostram que os segmentos ligados à tecnologia, como o de telecomunicações, têm bastante espaço para uma maior amplitude de talentos. Mais diversidade entre times resulta na troca de visões, ideias e experiências, que normalmente levam a soluções mais inovadoras. Já há ótimos exemplos de como programas voltados para mulheres incentivam uma maior participação delas no mercado e vemos que a margem de crescimento para essas profissionais é enorme, principalmente na América Latina, que parece já ter entendido esse recado. Mesmo com grandes desafios, podemos dizer que o futuro é promissor para as mulheres.

 

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