No mundo de TI e telecomunicações, nos deparamos com novos termos e siglas em um ritmo tão intenso quanto a evolução das tecnologias. A maioria vem do exterior, em inglês. 

Algumas vezes, se popularizam traduções em português para essas palavras. Foi o caso de “telefone celular”, “inteligência artificial”, “fibra óptica”, “metaverso”, “rede de acesso” e “última milha”. 

Outras vezes, nos acostumamos com a versão aportuguesada do termo por extenso, mas mantemos a sigla em inglês. É o que aconteceu com “Internet das Coisas” e “IoT”. Ou “operadoras móveis virtuais” e “MVNOs”. Ou ainda “realidade virtual” e “VR”. Ninguém usa o que seriam suas respectivas siglas em português, “IoC”, “OMVs” e “RV”. Não me pergunte o porquê. Simplesmente não pegou. Ou talvez ninguém tenha tentado.

Em alguns casos, as versões original e traduzida são igualmente usadas, como sinônimos, um bom recurso para evitar a repetição de palavras. É o que acontece com “app” e “aplicativo”, ou com “cloud” e “nuvem”.

O mais comum, porém, é simplesmente incorporarmos a expressão em inglês no nosso dia a dia, vide “streaming”, “blockchain”, “standalone” etc.

Como jornalista especializado em tecnologia, me sinto responsável em refletir sobre essa questão. Volta e meia, nos esforçamos para emplacar alguma tradução. Foi o caso com “processamento de linguagem natural (PLN)”, no lugar de “natural language processing (NLP)”, e “robô de conversação”, como sinônimo de “chatbot”.

O problema é que, às vezes, no afã de encontrar uma boa tradução para o português, nos precipitamos. O caso mais recente foi com as redes celulares privativas. Em inglês elas são chamadas de “mobile private networks”, ou MPN, sigla inclusive que usamos para nomear nosso evento dedicado ao assunto. 

Inicialmente, traduzimos como “redes privadas móveis” – aliás, fica a dica para os leitores que quiserem pesquisar por matérias sobre o tema publicadas antes de 2023. Porém, na primeira edição do MPN, em junho do ano passado, o superintendente da Anatel Vinícius Caram explicou que a agência reguladora prefere usar a palavra “privativa”. Culpou os advogados da Anatel, que teriam razões jurídico-regulatórias para preferir chamá-las assim. Eu acabei encontrando uma motivação semântica para acompanhá-lo. É a seguinte: entendo que toda rede privada é de uso privativo (é o caso de qualquer rede montada por uma empresa dentro das suas dependências), mas é possível também haver redes de uso privativo dentro de redes públicas das operadoras móveis. Isso deve se popularizar com a adoção do chamado network slicing (ou seria fatiamento de rede?) no 5G. Por isso, para abranger os projetos de redes privativas envolvendo as redes públicas das teles, passei a usar o termo “rede privativa móvel”.

Depois disso, no começo de 2023, durante uma entrevista com o presidente da UTCAL, ao perguntar sobre redes privativas móveis no setor de energia (há várias delas, por sinal!), fui repreendido. No seu entender, não se trata de uma rede “móvel” porque os diversos dispositivos conectados são fixos, instalados nas redes de transmissão e distribuição elétrica. Cogitei argumentar que o termo “móvel”, na indústria de telecomunicações, se refere ao uso da tecnologia celular, ainda que provendo conectividade a pontos fixos. Mas pensei melhor e resolvi trocar mais uma vez a expressão no meu uso corrente para uma versão menos sujeita a interpretações equivocadas. E assim surgiu o termo “redes celulares privativas”. E, claro, com uma sigla em português: RCPs.

O lançamento, na semana passada, da primeira versão do Mapa do Ecossistema de Redes Celulares Privativas marca também a primeira utilização desse termo.

Só não me perguntem por que o nome do nosso site é em inglês. Confesso que não lembro em detalhes como foi a discussão da sua criação, nos tempos da antiga Converge Comunicações, doze anos atrás. Talvez fosse para manter uma proximidade com o Teletime, de onde viemos. Esse não tem mais como mudar. Mobile Time já pegou.

 

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