Faz um bom tempo que a Apple anuncia novos iPhones no mês de setembro. Tal qual uma banda bem ensaiada, a esses eventos sempre se segue um coro que pergunta: “cadê a inovação?”

Em 2024, os eternos insatisfeitos parecem ter um pouco mais de razão. Ao apostar na inteligência artificial — ou “Apple Intelligence” — como principal fator de diferenciação da linha iPhone 16, ficou a sensação de que a Apple abdicou de trazer novidades significativas ao seu produto carro-chefe.

A principal novidade, o botão “Camera Control”, foi pensada para IA. Ele ativa a câmera e permite controlá-la com gestos, mas o grande lance do novo botão é invocar a “Visual Intelligence”, o equivalente da Apple ao bom e velho Google Lens do seu grande rival em dispositivos móveis. Ou melhor, será. O recurso virá em uma atualização futura do iOS 18.

(Que todas essas “ingelligences” da Apple ficarão restritas ao idioma inglês por um bom tempo é mero detalhe, problema para a periferia do mundo.)

Pergunto-me, porém, se a “falta de inovação” do iPhone 16 é crime tão grave quanto os críticos acusam.

Argumento, há pelo menos três anos, que comprar celular é como comprar geladeira: ao menos nos modelos topo de linha, leva-se o que cabe no bolso e sem muito prejuízo se o último lançamento não couber, pois o penúltimo e o anterior a este ainda funcionam bem.

As principais novidades dos últimos iPhones, por exemplo, foram todas tangenciais: um entalhe diferente no topo da tela (“Ilha Dinâmica”), pedido de SOS por satélite (indisponível no Brasil), remoção de carregador de parede da caixa do celular (essa doeu).

Nem mesmo os avanços garantidos em velocidade, com chips sempre mais rápidos, e a alardeada chegada do 5G dá para dizer serem essenciais. Um iPhone de 2021 — aquele do ano em que comprá-lo passou análogo a trocar de geladeira — ainda dá conta do recado, com a bênção e as atualizações de software da Apple.

A indústria já sacou essa mudança de comportamento, que é natural em uma categoria madura como a dos celulares. Ninguém troca de geladeira todo ano, mesmo que em todo ano o mercado seja inundado de novas geladeiras.

O ciclo de troca de celulares se dilatou. Segundo algumas consultorias, como a Counterpoint Research, o intervalo médio superou os 40 meses em 2023. Cinco anos antes, em 2017, ele era de 21 meses.

Na apresentação do iPhone 16, os comparativos destacados pela Apple não foram em relação ao 15, mas ao iPhone 12.

Parte do apelo da IA às empresas é a esperança de que a tecnologia desencadeará um novo “super ciclo”, ou seja, encurtará a janela de troca dos celulares.

Os únicos modelos de iPhone capazes de rodar a “Apple Intelligence”, fora os da linha recém-anunciada, são os iPhones 15 Pro e 15 Pro Max. Só resta saber se os consumidores também estão ávidos por inteligência artificial no celular.

 

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