Recentemente foi proibido o uso de telefones celulares nas escolas brasileiras. Como pai de dois meninos, isso é um alívio. Afinal, com a Lei 15.100/2025 não existe meio-termo. O uso de celular é proibido nas escolas e isso poupa muitas discussões entre pais e educadores.
Mas isso não basta. Claro que retirar o telefone celular na sala de aula pode ajudar na concentração de uma geração dependente de telas. Mas os currículos escolares precisam ir muito além. Devem adotar a educação midiática como parte integrante de seu currículo.
Entender o impacto do telefone celular na cognição e comportamento humano é chave para saber como usar esse dispositivo ubíquo, poderoso – a mídia com maior capilaridade na história da humanidade. Portanto, apenas desligar o celular em sala de aula não resolve o desafio maior, justamente a educação midiática.
Queira ou não, na sociedade da informação, desde cedo cada indivíduo tem que ser um pouco midiólogo: entender o meio, as mensagens, as armadilhas, as potencialidades de uso da plataforma digital através do telefone celular e outros dispositivos. Desenvolver o senso crítico, o discernimento entre a realidade e a simulação. Saber identificar a origem de uma informação. Vou além: se apropriar de atributos éticos elementares para também produzir informação, já que cada indivíduo é um emissor. Além disso, entender qual o valor de seus dados, saber cuidar da vida digital que é, virtualmente, vida real.
Recentemente o governo federal lançou uma cartilha sobre bom uso das plataformas digitais para crianças e adolescentes. Não sou pedagogo, mas como midiólogo, cidadão e pai, acho uma iniciativa válida, porém muito incipiente. É preocupante a falta de debate estruturado e iniciativas explícitas sobre educação midiática entre as crianças – invariavelmente imersas em telas. Sinto falta no Brasil de iniciativas como o Media Literacy Now, dos Estados Unidos, que chama a atenção para a centralidade e urgência desse tema.
Comparo o processo de educação midiática com o processo de educação nutricional. A pessoa para desenvolver boa saúde tem que fazer boas escolhas. Isso vale para alimentos do corpo, e para informação (alimentos da mente). Com tanta polarização, oportunismo, “tigrinhos”, bets, bullying virtual, temos uma geração de crianças e adolescentes potencialmente doentes, intoxicadas por desinformação e inúmeras formas de violência digital.
O uso de tecnologia da informação, sobretudo da mídia móvel, portanto, deve se tornar um fundamento básico na construção da educação e no desenvolvimento pessoal das nossas crianças e adolescentes. Diferente de gerações anteriores, elas devem ser preparadas para entender – e usar bem – o meio e a mensagem.
Imagem principal Imagem criada com IA por Mobile Time