O telefone celular é a mídia com maior capilaridade na história da humanidade. É o suporte de comunicação protagonista na arquitetura digital, plataforma que estabeleceu a sociedade da informação de uma vez por todas.

O celular mudou nossa relação com o tempo, com o espaço, com o conteúdo, com o pensamento. O meio moldou não só a mensagem, como a nós mesmos. Com o smartphone, a aplicação da frase “o meio é a mensagem”, de Marshall McLuhan, foi escancarada. Afinal, o telefone celular é a expressão, no íntimo de cada ser humano, de toda a mudança da relação de nós mesmos, a partir da tecnologia que reformata o mundo no qual vivemos.

É disso que Marshall McLuhan trata em “Understanding Media: The Extensions of Man”: essa frase genial nos impele a ter esse nível de análise – e de compreensão – sobre a transição midiática que vivemos. Sobre todas as decisões que temos que tomar diante dela, em todos os aspectos da vida.

Especialmente em nossas carreiras profissionais, escopo deste Mobile Time. A captura do conceito “o meio é a mensagem” nos leva a uma leitura correta das transformações, muito além da interface. Faz entender que não estamos falando apenas de conteúdo, nem apenas de novos formatos. Tampouco sobre veículos ou redes sociais. Estamos falando de toda a linguagem forjada pela tecnologia, que se torna extensão do corpo e da mente. Em tempo: quem não fica desesperado quando perde o celular?

Por outro lado, a falta de compreensão dessa ideia é o que, no limite, faz as empresas quebrarem. Como a antiga editora Abril, por exemplo. A editora tentou, em vão, trazer o tempo e o espaço criados pelo hábito de leitura de revista impressa para a mobilidade do smartphone. Quebraram, como tantas outras empresas. Agora, às portas de 2025, novos atores compreenderam realmente o que significa o meio e assim atuam, de fato, na reformulação da mensagem. E do seu impacto central na mente e sociedade humana.

Por isso essa expressão cunhada pelo midiólogo canadense é tão crítica. Carrega, em si, o impacto central das mídias no destino da raça humana. “O meio é a mensagem”, na minha opinião, é uma frase tão elementar e fundamental como o “Penso, logo existo”, de René Descartes: para haver existência, tem que haver pensamento. Ambos conceitos, tanto de McLuhan quanto de Descartes, se aplicam desde os mais antigos registros da civilização humana. Enquanto houver existência, haverá meio. Enquanto houver pensamento, haverá mensagem.

Por isso, ao meu ver, “o meio é a mensagem” é uma expressão atemporal da filosofia produzida no século XX. Apesar de forjada na sociedade do espetáculo, a frase abriga desde a oralidade, as pinturas rupestres, a escrita, a imprensa, a eletricidade, o suporte digital. Se formos para um futuro conectado por redes neurais, o conceito estará firme e forte, pois o meio sempre vai configurar toda a mensagem. Platão tratou disso, a propósito. Veja bem, funciona até com Deus de Spinoza e com o Verbo, que se fez carne. É transcendental.

Saindo do cosmos e voltando para outubro de 2024, tivemos essa profundidade de discussão nos eventos de lançamento do novo livro “Brand Publishing na Prática”, que contou com a presença de Andrew McLuhan, neto do Marshall, filho do Eric e fundador do The McLuhan Institute, do Canadá. 

Foram realizados debates em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo com experts da comunicação contemporânea acerca do entendimento sobre o conceito “meio e  mensagem” aplicado ao brand publishing. O ciclo de encontros até gerou uma matriz inédita a partir do framework mcluhaniano sobre “meios quentes e frios” – outra ferramenta matadora da vasta, atual e perene obra do pensador.

Esse e muitos outros resultados concretos também surgiram do “tour” do novo livro, como a instigante entrevista do Fernando Paiva com o Andrew. Aliás, é preciso discutir a obra de Marshall McLuhan ainda mais, esclarecer muito melhor, torná-la cada vez mais acessível. Pois entender o genuíno significado de “o meio é a mensagem” é buscar uma melhor compreensão da nossa existência e de como as coisas funcionam. Afinal, a começar por este que vos escreve, todos nós somos, no espaço-tempo, meio e mensagem.

 

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