Costuma-se chamar de disruptiva qualquer tecnologia que gere uma transformação significativa em seu campo de atuação, impactando comportamentos, modelos de negócios, relações comerciais, produtividade etc. De tão utilizado, o termo se banalizou: há um monte de tecnologias ditas disruptivas por aí. E quando tudo é disruptivo, é porque talvez nada seja disruptivo…

Diante dessa reflexão semântico-tecnológica, proponho adotar um outro termo para nomear tecnologias que não são apenas disruptivas, mas que possibilitam o surgimento de novas e variadas aplicações que antes seriam impossíveis. São tecnologias que não impactam apenas o seu próprio campo do conhecimento ou o setor econômico no qual estão inseridas, mas são transversais, capazes de transformar, se não todos, inúmeros setores da economia. São tecnologias semeadoras.

As tecnologias semeadoras se caracterizam pela possibilidade exponencial de semearem novas (e, aí sim, disruptivas!) aplicações, ao sabor da imaginação humana – e/ou da sua capacidade de investimento. Quando uma tecnologia semeadora surge, dá asas à criatividade de inventores, empreendedores… ou escritores de ficção científica.

A eletricidade foi uma tecnologia semeadora. A computação também. A engenharia genética idem. E a Internet. E outras tantas. Agora, a mais nova nessa lista é a inteligência artificial generativa.

Quando uma tecnologia semeadora surge, a primeira fase que vivemos é a do deslumbramento. Ficamos encantados com a novidade, como se estivéssemos em um show de mágica. Em seguida, surgem duas reações quase que simultâneas e que, embora antagônicas, não são autoexcludentes: pessimistas vislumbram os riscos e os impactos negativos daquela tecnologia (que sempre existem, não se enganem) enquanto os otimistas tratam de imaginar as inúmeras aplicações futuras. O resultado final vai ser uma mescla dessas duas reações. Regulamentações vão impor barreiras para controlar o avanço desenfreado e evitar danos irreversíveis, mas sempre haverá brechas para semear novas aplicações disruptivas.

Estamos vivendo este momento pós-deslumbramento com a inteligência artificial generativa, no qual pessimistas e otimistas medem forças, e governos precisam se equilibrar entre medidas de controle e medidas de fomento.

Sou a favor de plantarmos novas sementes tecnológicas, mas também de permanecermos vigilantes contra o nascimento de ervas daninhas e outras pragas. Uma cultura equilibrada, diversificada e cuidadosa é o melhor caminho para colhermos os frutos no futuro, sem devastar o solo. E tão importante quanto uma safra farta é sabermos dividi-la com sabedoria e generosidade, sem excluir ninguém.

A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA

 

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