Quem tinha mais de 30 anos em 2013 provavelmente nunca usou ou sequer entende o Snapchat.

Hoje, porém, todos sentimos a influência do aplicativo de mensagens efêmeras. Os stories, grande legado do Snapchat à humanidade, rejeitam uma máxima da internet comercial: a de que todos os dados devem ser guardados “ad aeternum”, para sempre.

O efêmero no digital é um conceito não intuitivo. Com os preços de armazenamento em queda e as promessas de novas tecnologias capazes de extrair insights de grandes volumes de dados — big data, machine learning, LLMs! —, dispensá-los se torna uma atitude quase subversiva.

Talvez seja. Se for… e daí? Também é libertadora. E pode ser econômica. Há vantagens em não ser uma pessoa acumuladora digital.

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Demorou para outros aplicativos abraçarem a efemeridade como padrão trazida pelo Snapchat.

Nos principais apps de mensagens — WhatsApp, Signal, Telegram —, é possível definir uma duração padrão para mensagens em uma conversa. Posto de outra forma, o padrão é que as mensagens sejam temporárias, que sumam automaticamente depois de alguns dias, semanas ou meses.

No campo da privacidade, as duas maiores empresas de publicidade digital, Google e Meta, apropriaram-se do efêmero para aplacar as críticas a seus modelos de coleta indiscriminada de dados para segmentar anúncios.

Faz alguns anos, é possível desligar ou definir um período de exclusão automática para alguns tipos de dados que ambas coletam, armazenam e usam para direcionar anúncios.

Desconfio sempre das intenções de Google e Meta. É provável que essa benesse só tenha sido liberada porque dados antigos deixaram de ter valor em seus sistemas de publicidade digital modernos. Ainda assim, que bom!

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Proponho irmos além.

Em 2004, o Google lançou o Gmail com um desafio: de que ninguém jamais precisaria excluir um e-mail por falta de espaço.

Quando abro as configurações do meu e-mail (que não é do Gmail), vejo ali ~100 mil mensagens. É muita coisa, e boa parte dela, tenho certeza, dispensável.

E se o e-mail fosse efêmero por padrão? Se mensagens arquivadas fossem excluídas automaticamente depois de um ano?

Veja você: a promessa original do Gmail não se sustentou. Coincidência ou não, [em 2019](https://www.latimes.com/business/story/2019-10-24/gmail-hooked-us-on-free-storage-now-google-is-making-us-pay) muitos usuários começaram a bater no teto dos 15 GB que o Google oferece gratuitamente. A partir dali, só pagando uma mensalidade para continuar ignorando o botão de excluir.

A auto-exclusão de e-mails nos pouparia dessa chateação, mantendo sob controle o espaço gasto para armazenar mensagens.

Isso vale para tudo. Assinaturas de serviços de armazenamento na nuvem — Google Drive, iCloud, OneDrive, Dropbox — são, para muitos, quase que obrigatórias. Precisamos de tanto espaço para tantos arquivos que jamais abriremos outra vez?

O que proponho não é uma mudança absoluta, mas sim um novo padrão. Por óbvio, existem arquivos que precisam ser preservados, seja por razões afetivas, históricas, profissionais ou jurídicas.

Só que esses arquivos, que precisam ser preservados, são exceções. Ou deveriam ser. Em vez de guardar tudo, o novo padrão seria excluir tudo, exceto o que interessa ou é importante.

 

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