A segunda terça-feira de outubro é uma data importante para as mulheres do universo da tecnologia da informação e comunicação (TIC). É o Dia de Ada Byron Lovelace, a inglesa que escreveu o primeiro algoritmo para ser processado por um equipamento. Seus cálculos inspiraram, cem anos depois, o seu conterrâneo Alan Turing no desenvolvimento do computador que decifrou mensagens secretas da Alemanha e ajudou a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Uma outra efeméride, o Dia Internacional das Mulheres na Matemática, comemorada em 12 de maio, marca a data de nascimento da iraniana Maryam Mirzakhani, primeira mulher a receber a Medalha Fields, um tipo de Nobel da área. Interessante notar que as duas comemorações foram estabelecidas só agora, no século 21.
O Brasil também tem suas pioneiras, como Maria Laura Lopes, primeira mulher a se doutorar em Matemática aqui, em 1949, e primeira brasileira a integrar a Academia Brasileira de Ciências, em 1951. Especificamente em TIC, a engenheira Edith Ranzini estava na equipe que criou o Patinho Feio, o primeiro computador brasileiro, há exatos 50 anos, em 1972.
Todas essas personagens são a prova de que várias mulheres estão nas origens de uma atividade que hoje está entre as mais bem remuneradas do mundo, mas exercida majoritariamente por homens por muitos anos. Como condição em comum, essas mulheres tiveram a sorte de nascer em famílias que incentivavam e podiam patrocinar seus estudos, em épocas em que apenas uma ínfima parte da população podia no máximo aprender a ler.
Felizmente, nota-se uma evolução em todo o mundo, com a ampliação do acesso à educação e à informação em geral em muitos países. Nos últimos anos, houve uma expansão da participação feminina em carreiras na área STEM – termo inglês para indicar as atividades ligadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática –, embora as mulheres ainda sejam minoria nas carreiras de tecnologia de informação.
Segundo a última edição do Censo da Educação Superior, o Brasil formou 14 mil engenheiras e 42 mil engenheiros em 2020. Nos cursos de TIC, foram graduadas 7 mil mulheres, ante 44 mil homens. Segundo a Unesco, em fevereiro de 2021 as mulheres representavam 40% dos graduados em Ciência da Computação e Informática em todo o mundo. No Brasil, conforme o IBGE, mulheres representavam apenas 20% da força de trabalho em tecnologia nesse mesmo ano.
Por um lado, o Brasil ainda se esforça para dar a seus jovens um ensino básico decente. Ainda é lento o aumento da rede de escolas técnicas profissionalizantes, mais acessíveis do que os cursos superiores, principalmente os relacionados ao universo da tecnologia da informação. Por outro, é exatamente o avanço das tecnologias que abre mais oportunidades para que pessoas de todas as classes tenham acesso ao conhecimento e novas capacitações.
Não é obrigatório mais cursar a universidade para iniciar uma carreira em áreas mais bem remuneradas. Existem alternativas ao ensino tradicional e hoje é mais fácil do que há 20 anos encontrar cursos que abrem portas para as carreiras de TI. Muitos deles são gratuitos, oferecidos por entidades sem fins lucrativos com patrocínio de grandes empresas, acessíveis on-line de onde quer que o interessado esteja.
A plataforma Mulheres Positivas, por exemplo, dedica-se a divulgar oportunidades no mercado de trabalho e a oferecer cursos para facilitar o público feminino a acessar o mundo da tecnologia. É com o objetivo de promover a valorização das mulheres e estimulá-las a planejarem carreiras em tecnologia que a plataforma agrega e divulga vagas de emprego, cursos e mentorias online. Os resultados são animadores.
No primeiro semestre deste ano, 25% dos acessos aos conteúdos de tecnologia foram para as tecnologias digitais; 19%, para conteúdos de programação JAVA; 17%, para criação de sites; 15%, para UX e UI Design; 11%, para computação em nuvem; e 11%, para desenvolvimento Python, áreas ainda predominantemente masculinas. Na procura por emprego, TI foi a segunda área mais procurada pelas usuárias do aplicativo: 65% buscaram vagas para cargos de analistas, ou seja, em começo de carreira; 40% dos acessos no primeiro semestre de 2022 são de pessoas com 45 anos ou mais, isto é, de quem já começou uma carreira, mas quer alguma especialização ou mudança.
É essencial estimular as jovens que têm interesse em TI, pois o perfil das gerações mudou e vão caindo as diferenças entre profissão “de homem” e “de mulher”. É fato que o interesse e a disciplina das mulheres nos estudos são iguais ou até mesmo superiores aos dos homens. Segundo o INEP, mulheres têm uma taxa de conclusão melhor que os homens no ensino superior: 43% ante 35%.
A capacitação de mulheres em funções como programação e desenvolvimento de software e empreendedorismo digital pode ajudar a inseri-las em um mercado ainda predominantemente masculino. Consequentemente, ao incentivá-las a ocupar um setor de atividade com vagas mais qualificadas e melhor remuneração, esse movimento pode provocar uma grande mudança para aquelas de baixa renda, contribuindo para que superem sua condição social. Qualificar-se também é uma oportunidade para transitar entre várias outras áreas e possibilita novos passos para ir além do emprego formal, assumindo o empreendedorismo e a criação de novos negócios.
A soma de esforços vem dando resultados. Mas é preciso acelerá-los para aumentar as oportunidades e o suporte essenciais para as mulheres seguirem nas carreiras mais valorizadas e conquistarem mais independência.