Na semana passada abordei o conceito de “tecnologias semeadoras”, aquelas que abrem oportunidades para a invenção de aplicações disruptivas nos mais variados setores da economia. A mais recente tecnologia semeadora com a qual temos o a sorte (ou não) de conviver é a inteligência artificial generativa.

Continuando o tema, proponho um exercício de criatividade/especulação: imaginar novas aplicações para a IA generativa. A ideia aqui é fazer uma espécie de brainstorm tecnológico e de negócios, pensando em casos de uso que sejam possíveis tecnicamente, senão agora, talvez dentro de poucos anos, mas sem se preocupar com viabilidade comercial ou demanda de mercado. A proposta é deixar a imaginação livre, saboreando essa oportunidade histórica rara de vivermos a chegada de uma tecnologia semeadora.

Seguem aqui algumas ideias minhas:

. Síndico artificial. Muitos prédios sofrem com a falta de moradores dispostos a serem síndicos e acabam contratando um profissional de fora. Mas e se esse cargo pudesse ser exercido por uma IA? Ela tomaria decisões com base nos relatos dos moradores e na convenção do condomínio, sem risco de favorecer um ou outro morador, porque não tem laços de amizade ou outros interesses pessoais. O síndico artificial levantaria orçamento para obras, controlaria as contas e faria os pagamentos, tudo de acordo com regras pré-definidas. Os moradores poderiam votar na personalidade do síndico artificial: se querem alguém que preze mais ou menos pela austeridade nas contas do prédio, que seja mais ou menos rigoroso na aplicação das multas previstas etc. Se essa ideia de síndico artificial funcionar, o mesmo conceito poderia ser aplicado em outros ofícios em que a sociedade queira uma atuação mais imparcial, menos sujeita a pressões externas ou vieses pessoais. Poderia ser o caso de juízes?

. Séries e filmes artificiais. Quantas vezes você se viu perdido no Netflix à procura de alguma nova série para assistir? O algoritmo conhece suas preferências, mas nem sempre há uma produção nova a seu gosto que você ainda não tenha assistido. E se fosse possível pedir para uma IA criar uma série para você? Seria um serviço em que você falaria o tipo de conteúdo que deseja assistir e a IA faria algo sob medida, levando em conta seu histórico de consumo de audiovisual e quaisquer outras diretrizes que você passar. Tudo com atores artificiais. “Quero uma série de comédia romântica, com um casal improvável, em sete episódios curtos de até 20 minutos cada, e final feliz e inspirador”. Ou “uma série de terror psicológico, que seja perturbadora, mas sem sangue, que se passe no Leste europeu, com protagonistas jovens, visual sombrio, e final surpreendente.” As criações ficam disponíveis para você assistir, mas podem ser compartilhadas com terceiros, mediante uma taxa extra. Eventualmente, surgirá a versão pornográfica desse serviço – ou, conhecendo a humanidade, talvez comece pela pornografia…

. Narrador eterno. Fazia muito tempo que não escutava uma partida narrada pelo Galvão Bueno. Outro dia o reencontrei na Amazon Prime e me dei conta o quanto sentia falta do seu estilo de narração. O sujeito é um craque. E aí veio a ideia: no futuro será possível escolher o narrador que você quiser para uma partida ao vivo, inclusive com a voz e estilo de algum que já tenha se aposentado. A IA analisa em tempo real os lances do jogo e o locutor artificial narra. Cansou do Galvão? Troca para qualquer outro pelo controle remoto durante o jogo.

. RPG além da imaginação. Um jogo de RPG em que as cenas descritas pelo mestre são construídas em tempo real por IA generativa e visualizadas pelos jogadores através de headsets de realidade virtual. As imagens podem ser iguais para todos os jogadores ou diferentes, com cada um tendo um mundo diferente sendo criado com base na narrativa do mestre em tempo real.

. Robô do lar. No MWC deste ano vi um robô humanoide dotado de IA generativa, capaz de analisar o que vê e entender as ordens que recebe dos seus donos. Hoje são pensados para fábricas, mas logo poderão estar dentro das nossas casas, como empregados domésticos, lavando a louça, varrendo a casa, fazendo pequenos consertos residenciais, recolhendo e pagando uma entrega na portaria, lavando o carro etc. Com biometria vocal, pode ser treinado para obedecer apenas a voz do dono.

E você? Para onde a sua imaginação vai quando pensa nas possibilidades abertas pela IA generativa?

A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA generativa

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!