O Internet Para Todos (IPT) nasceu em 2019, no Peru, como uma Operadora de Infraestrutura Móvel Rural (OIMR), a partir de uma aliança entre Telefónica, Meta, BID Invest (do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Outras operadoras utilizam a sua rede, por meio do modelo network as a service (NaaS), para levar conexão 4G a 3,2 milhões de pessoas em zonas rurais do país sul-americano que antes não tinham acesso à conectividade.
O projeto surgiu do compartilhamento de uma mesma visão, entre as companhias envolvidas: conectar os não conectados, reduzindo a lacuna digital, com o propósito de melhorar a vida das pessoas, a partir das oportunidades que vêm da conectividade. É uma forma de alcançar a inclusão digital, desenvolvendo social e economicamente o Peru. Em quase quatro anos, completados em maio, a iniciativa conectou 16,7 mil centros povoados. Das quatro principais operadoras do país, três utilizam a rede do IPT – a própria Telefónica, a Claro e a Entel.
Nesse período, o IPT alcançou metade da sua meta, que é conectar 6 milhões de pessoas que não tinham Internet ou, se possuíam, era uma Internet deficiente. O modelo encontrado, de OIMR, foi pensado para endereçar alguns dos principais desafios do Peru para o avanço da conectividade: trata-se de uma região com densidade demográfica muito baixa, onde as pessoas são de renda baixa e os serviços básicos são precários.
“O que fazemos é desenvolver infraestrutura de redes móveis de acesso e de transporte nessas zonas rurais do país. Estas redes se põem ao serviço das operadoras móveis de maneira compartilhada, para que assim possam estender o seu serviço nas zonas rurais de maneira eficiente. O IPT não tem espectro, nós usamos os espectros das operadoras. E os nossos clientes são as operadoras, que é quem mantém a relação com os clientes finais”, explicou Teresa Gomes (foto), diretora geral do IPT, no evento Conectividade Significativa, realizado nesta terça-feira, 25, em Brasília.
Quebra de paradigmas
Gomes contou que o projeto quebrou alguns paradigmas do setor, principalmente em relação às operadoras, desde que começou. Elas percebem o IPT como uma extensão de sua rede, um sócio estratégico para poder levar Internet a essas zonas rurais. Além disso, o IPT é visto como um operador neutro, já que não tem exclusividade com nenhuma companhia.
“Eles já entenderam que a maneira de dar cobertura nessas zonas não é competir, é colaborar, o que é muito diferente. Eles fazem a diferença em outras partes, não na infraestrutura, que afinal é a mesma para todas”, contou. “Nós também acompanhamos as operadoras móveis, fazemos uma revisão dos preços todos os anos, porque temos que acompanhar o negócio móvel. Se nós não acompanharmos, elas não vão buscar o serviço que oferecemos.”
O IPT também se tornou um aliado do Estado para levar conectividade a essas zonas rurais. Como explicou a diretora, ambos têm o mesmo objetivo, que é reduzir a lacuna digital nessas regiões, em comparação com as zonas urbanas. Dessa forma, o IPT pode usar a infraestrutura do Estado a fim de levar Internet a esse locais. Como OIMR, também pode participar de licitações públicas.
Até então, foram construídos 2,1 mil sites 4G pelo IPT. 1,4 mil, cerca de 65%, são sobre redes de transporte terrestre – de micro-ondas ou fibra óptica. O resto é por satélite. 50% desses sites nessas redes de transporte terrestre foram colocadas sobre infraestrutura do Estado, criadas com dinheiro do fundo peruano parecido com Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) brasileiro.
“Estas redes não eram para ser usadas por uma operadora móvel, elas são feitas para dar serviço a instituições públicas – mas não nós. Como eles viram que essa infraestrutura tem um valor e tinham que pôr à disposição do povo, nós estamos agora usando essas redes. Ainda há muitas mais redes que estão sendo desenvolvidas. Nós estamos à espera dessas para seguirmos fazendo o nosso trabalho”, compartilhou.