Em uma noite chuvosa, um jovem empresário esperava por um táxi por mais de meia hora no Leblon, no Rio de Janeiro, após um evento para startups. Ele começou a perceber que esse era um problema recorrente em sua vida: em muitas ocasiões, ainda era difícil encontrar um táxi rapidamente.
A ineficiência o levou a pensar em criar um aplicativo para dispositivos móveis de táxi, já que, até um primeiro momento, ele estava planejando criar um app de monitoramento de ônibus. Isso foi deixado de lado quando viu uma necessidade maior a partir de uma dor própria.
Investindo nessa solução desde o início de 2011, foi assim que Tallis Gomes, o jovem empresário, fundou o aplicativo Easy Táxi. O conceito foi apresentado pela primeira vez para o público durante a Startup Weekend Rio e, ainda no primeiro ano, ganhou o concurso Startup Farm Rio, entrando para o grupo dos cinco finalistas selecionados a partir da pontuação de participantes da competição SmartCamp apoiada pelo IBM.
Na época, não existia nenhum outro aplicativo como esse no Brasil. Em fevereiro de 2012, o app lançou o piloto da sua versão beta no Rio de Janeiro. Dois meses depois de uma fase introdutória, o Easy Táxi foi lançado oficialmente para toda a base de usuários.
No primeiro ano do seu funcionamento, a companhia chegou a atrair mais de 5 mil motoristas e 200 mil usuários. Seu modelo de negócios era baseado em cobrar R$ 2 do motorista por cada corrida concluída – única fonte de monetização, enquanto a ferramenta era gratuita para os passageiros.
“É mais do que o suficiente. Queremos ganhar na quantidade. Chegamos a esse valor perguntando de porta em porta, nos hotéis, quanto que as pessoas que agenciam táxi cobram de gorjeta. A média era de R$ 2, e decidimos adotar esse valor”, contou Gomes em entrevista.
O que é hoje considerado comum, dez anos atrás era inédito: o aplicativo usava o GPS do próprio celular para localizar o usuário a partir da confirmação do endereço exato e das informações de pontos de referência. E era possível fazer a solicitação também pelo desktop.
Investimentos
O primeiro grande financiamento que apoiou a empresa foi do investidor-anjo do Peixe Urbano Alex Tabor. Porém, a verdadeira virada de chave para a Easy Táxi foi com a primeira rodada de investimento de US$ 4,9 milhões (cerca de R$ 10 milhões) da Rocket Internet em outubro de 2012.
A intenção da empresa alemã Rocket Internet era transformar a startup brasileira em um líder global. Naquele momento, várias empresas de aplicativo de táxi nasciam por todo o mundo, mas não havia ainda um grande player consolidado. Por sua vez, o aporte permitiu a expansão do aplicativo no mercado internacional, abrindo pela primeira vez sua operação no México.
Pouco menos de um ano depois, em junho de 2013, a Easy Táxi recebeu outro aporte, desta vez de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 30 milhões, na época), realizado pelo fundo de investimento LIH (Latin America Internet Holding), da Rocket Internet e da Milicom.
Com esta rodada, a empresa planejava estar presente em 25 países e esperava crescer em 120% o volume de downloads em 2013. Já estava disponível para Android, iOS e BlackBerry Z10 (uma versão para Windows Phone estava a caminho), e o app acumulava 1 bilhão de downloads.
O fundo foi destinado para a expansão internacional na Ásia e América Latina, melhoria do atendimento e novos recursos. Após a inserção de capital, a empresa entrou em vários novos mercados, incluindo a Malásia, Filipinas, Tailândia e Hong Kong no mesmo ano.
Em julho daquele ano, foi anunciada outra rodada de financiamento de US$ 10 milhões da joint-venture Africa Internet Holding para ampliar os serviços na África e Oriente Médio. A estratégia de aumentar a empresa foi alcançada. A Easy Taxi estava atuando em 35 países, como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Malásia, México, Paquistão, Peru, Coreia do Sul, Venezuela, entre outras.
Em 2015, Tallis deixou a Easy, que foi comprada pela Cabify no ano seguinte por “40% a menos do que valia quando deixamos a gestão”, afirmou.
União com Cabify
A startup espanhola Cabify uniu suas operações com a brasileira Easy. As startups, inicialmente, operaram sob o comando do atual presidente e fundador da Cabify, Juan de Antonio, mas mantiveram as marcas e equipes próprias.
A Easy havia negado os rumores de que os aplicativos se transformariam em um só. O co-presidente do app, Jorge Pilo, disse que, no futuro, “a união de marcas pode acontecer, mas não vai ser no curto prazo. As duas marcas funcionam bem estando separadas e temos capital para manter isso”.
Naquela altura, o número de países atuantes havia diminuído para doze: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela. E a Easy parecia ter dificuldade em obter tanto financiamento quanto as concorrentes. Enquanto isso, Uber e 99 cresciam com cerca de R$ 200 milhões de investimento para cada empresa.
App descontinuado
Em junho de 2019, foi anunciado que o aplicativo da Easy Táxi seria definitivamente descontinuado para todas as operações se concentrarem no app da empresa espanhola.