Em uma terça-feira de 2022, o mundo da tecnologia viu se encerrar mais um capítulo de sua história. No dia 4 de janeiro, smartphones BlackBerry com sistemas operacionais da companhia, como BlackBerry 10, 7.1 e anteriores (a última atualização foi lançada em 2013), deixaram de receber suporte. Mesmo com Wi-Fi e rede celular, eles não eram mais capazes de fazer chamadas, enviar mensagens de texto, usar dados e nem fazer ligações para números de emergência. Aparelhos BlackBerry com Android, no entanto, continuam rodando normalmente.
Não muito tempo atrás, a BlackBerry era uma das líderes do mercado de smartphones. Inicialmente chamada de Research in Motion (RIM), a companhia canadense foi fundada em 1984, se especializando no desenvolvimento de modens e pagers. A linha BlackBerry nasceu em 1999, com o lançamento do pager BlackBerry 850. Com um teclado QWERTY, o dispositivo trazia um diferencial, que poucos – ou nenhum – competidores na época possuíam: possibilitava o envio e recebimento de e-mails. Nos primeiro anos, junto com o personal digital assistant (PDA) Blackberry 857, ambos ajudaram a companhia a crescer lentamente, com 25 mil usuários.
Foi juntando a tecnologia dos seus dispositivos pioneiros ao telefone celular que a BlackBerry explodiu de vez, principalmente no mundo corporativo. Em 2002, o primeiro smartphone da BlackBerry foi lançado, BlackBerry 5810, oferecendo recursos como e-mail, acesso à Internet, SMS, calendário, alarme, notas, listas e, claro, ligações. Os dispositivos da companhia também tinham seu próprio serviço de mensagens instantâneas, o BlackBerry Messenger, ou BBM, introduzido em 2005. Com ele, já era possível ver se a pessoa havia lido a sua mensagem. Outras novidades que a companhia inventou foram o envio de notificações push e a capacidade de rolar a tela, a princípio por meio de uma bolinha que girava 360º.
Por muito tempo, o BlackBerry dominou o mercado de smartphones. Em certo momento, chegou a vender 50 milhões de unidades anualmente, representando metade do mercado estadunidense e 20% do mercado global, em 2010. No seu pico, em setembro de 2011, a BlackBerry tinha 85 milhões de usuários inscritos nos seus serviços. Havia até uma condição, a “BlackBerry addiction”, o vício em BlackBerry. O termo, que se popularizou nos anos 2000, se referia ao uso compulsivo dos smartphones da empresa de tecnologia canadense. As pessoas, que checavam o celular a todo momento, eram chamadas de “crackberries”.
Com o surgimento do iPhone, em 2007, e dos primeiros dispositivos Android, o cenário começou a mudar. Em 2008, chegou a lançar um smartphone com touchscreen, o chamado BlackBerry Storm, em resposta ao celular da Apple. Até 2013, quando a RIM trocou oficialmente de nome para BlackBerry, a companhia ainda conseguiu se manter entre as líderes, mas foi ficando para trás com a popularização de outras marcas. Em 2016, anunciou que deixaria de fabricar smartphones para focar no desenvolvimento de softwares e serviços de cibersegurança. Atualmente, o software QNX é utilizado como sistema de infotenimento em milhões de carros e como sistema operacional de dispositivos de Internet das Coisas (IoT), como máquinas de lavar, aspiradores de pó e semáforos. A Onward Mobility, que comprou os direitos do BlackBerry, tem planos de lançar um dispositivo 5G da marca.