Antes mesmo da popularização dos smartphones, usar o celular para realizar transações financeiras já era uma realidade comum em alguns países. O M-Pesa, do Quênia, é o serviço mais conhecido do início da era do dinheiro móvel. O caso de sucesso africano foi responsável por tornar essa possibilidade conhecida no mundo, mas foi nas Filipinas que a primeira companhia de telecom teve a ideia de usar o celular como uma ferramenta para as finanças.

Em 2001, a SMART Communications lançou o SMART Money, em parceria com o Banco de Oro. Por meio do SIM Toolkit (STK), associado ao cartão SIM, o serviço permitia que as pessoas enviassem e recebessem dinheiro nacional e internacionalmente, assim como comprar créditos de celular, receber salário, pagar empréstimos e pagar contas.

Não era preciso ter uma conta bancária para se registrar, mas havia a opção de vincular uma conta de instituição parceira da SMART. O serviço incluía um cartão de pagamento recarregável junto ao celular SMART, que completava o ecossistema móvel financeiro da companhia. Os clientes podiam pagar mercadorias em comércios usando um cartão SMART Money.

O acesso ao serviço era feito por meio de um menu de navegação SIM no celular. Todas as transações eram iniciadas usando o menu, mas as mensagens de confirmação eram entregues e exibidas por SMS. Para transferência de dinheiro, tanto o remetente quanto o destinatário deveriam estar registrados no SMART Money.

GCASH

Seguindo o sucesso da SMART, em 2004, antes do lançamento do M-Pesa, a filipina Globe Telecom lançou o GCASH, baseado em SMS, que oferecia uma suíte similar de funcionalidades ao SMART Money. O GCASH fornecia aos assinantes recursos como envio de remessas de dinheiro, doações, liquidação de empréstimos, recebimento de salários ou comissões, além de pagamento de contas, produtos e serviços.

Os clientes acessavam o GCASH por meio de SMS, um menu STK ou um menu SIM que podia ser baixado por meio de uma instalação sem fio. O preferido era o SMS. Qualquer tipo de transação era feita inserindo o número de telefone do destinatário e, em seguida, as informações necessárias no SMS. Para uma transferência de dinheiro, por exemplo, era simplesmente o valor seguido pelo m-PIN do usuário, um número que o identificava. Para o pagamento de uma mensalidade, incluía o nome e o número de identificação do aluno.

O que levou ao sucesso precoce do dinheiro móvel nas Filipinas?

Algumas decisões da Globe, SMART e do Banco Central das Filipinas (BSP – Bangko Sentral ng Pilipinas) foram chave para o sucesso do dinheiro móvel no país. Três elementos, em particular, tiveram grande impacto: a criação de regulamentações favoráveis ao dinheiro móvel; o design dos serviços; e alinhamentos de interesses dentro de um ecossistema. Foi essencial o BSP permitir que as operadoras móveis experimentassem novos modelos de prestação de serviços financeiros.

Outros fatores contribuíram para as Filipinas darem o pontapé inicial do dinheiro móvel. Sua disposição geográfica única, dividida em milhares de ilhas, dificultava a cobertura geográfica por instituições financeiras formais, que era limitada, resultando em uma baixa penetração bancária. A penetração móvel, por outro lado, era alta. Havia também diversas instituições financeiras não bancárias.

Outro fator diz respeito à necessidade do envio e recebimento de remessas domésticas e internacionais nas Filipinas. Muitos trabalhadores filipinos moravam (e moram) em outros países, precisando enviar dinheiro aos seu familiares. Isso resultou na criação de um enorme mercado de remessas internacionais.

O sucesso foi tanto que o SMART Money (sob o nome de Maya) e o GCASH existem até hoje. É claro que, com o avanço da tecnologia, mudaram a roupagem. Atualmente, funcionam dentro de smartphones, da maneira como conhecemos comumente o mundo financeiro móvel. Operado pela segunda maior telco das Filipinas, o GCASH, por exemplo, se ramificou também em uma carteira digital.

 

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