Pelo menos cinco grandes publishers internacionais de jogos móveis estão prospectando possíveis aquisições de estúdios brasileiros, informa Carlos Estigarribia, diretor da consultoria RightZero e especialista no mercado nacional de games móveis. De acordo com o executivo, que atua no setor há mais de 15 anos, nunca houve um interesse tão grande de players estrangeiros em adquirir empresas brasileiras.
“Nunca vi algo nesse nível. O mais perto disso foi há mais de dez anos, na época dos jogos Brew”, recorda Estigarribia, que naquele tempo tinha um estúdio de jogos móveis para Brew que foi comprado por uma empresa asiática.
O que os publishers querem, principalmente, são estúdios com um bom corpo técnico para que cuidem da manutenção de jogos de sucesso, a um custo mais baixo do que aquele dos países de origem. É o chamado live ops. Há vários mercados além do Brasil que poderiam prover isso, mas cada um enfrenta problemas particulares que afastam os investidores estrangeiros, explica o consultor. A China, por exemplo, vive um clima de tensão comercial com os EUA, além de recentes restrições impostas pelo governo no setor de jogos eletrônicos, o que gera insegurança jurídica. Na Índia, existe um boom de empreendedorismo e o que leva muitos desenvolvedores a abandonarem seus empregos para montar seu próprio negócio, com fomento do governo. A Ucrânia, que é outro pólo de desenvolvimento de jogos móveis, enfrenta constante tensão com a Rússia. Por fim, na Turquia, questões políticas e de segurança estão levando profissionais de TI e migrarem para outros países.
Em comparação com esses outros mercados, o Brasil é visto como um país de relativa estabilidade politico-econômica, afirma o consultor. E há uma série de fatores locais que contribuem para a aumentar o interesse dos publishers estrangeiros. Um deles é a desvalorização do Real frente ao Dólar, o que barateia os ativos e a prestação de serviços aqui. Outro é o trabalho consistente realizado nos últimos anos por parte da Apex e da Abragames para promover o ecossistema brasileiro de games em feiras internacionais, tornando o País cada vez mais reconhecido pela qualidade técnica dos seus desenvolvedores de games.
Também pesa a favor do Brasil o potencial de crescimento do seu mercado interno de games. Há sinais que indicam ele deve crescer, como a rápida popularização dos e-sports entre os brasileiros. Por isso, uma presença aqui é tida como estratégica para grandes publishers internacionais.
Por fim, os investidores estrangeiros, especialmente aqueles sediados nos EUA, elogiam a proximidade cultural com o País. “O Brasil é culturalmente muito mais similar aos Estados Unidos e Europa do que àqueles outros países. Então é muito mais fácil conversar sobre fazer um jogo em cima de uma propriedade intelectual americana: o estúdio daqui vai entender exatamente o tom que o jogo precisa ter”, explica. Até o fuso-horário é favorável: “a diferença de fuso horário entre Europa/EUA e Brasil é bem mais aceitável do que com a China por exemplo”, completa Estigarribia.