Não são apenas as operadoras móveis que estão divididas sobre a obrigatoriedade do release 16 no edital do 5G. Mobile Time conversou com dois fornecedores de rede e um de chipsets que demonstraram opiniões divergentes sobre o assunto.
Uma das fontes ouvidas aprova a proposta da Anatel: “Com o Release 16 os incumbentes e novos entrantes estarão em condições iguais de competição. Além disso, o Release 16 apresenta um conjunto de benefícios tais como melhoria de cobertura principalmente em 3,5 GHz, mais opções de agregação de portadoras e o suporte de IoT em 5G. Uma operadora com essa tecnologia deve apresentar índices de qualidade (Netflix ou Ookla) muito superiores que outra com Release 15 – estimamos em até 20% melhores”, argumenta. “E no caso de utilizar standalone, aí podemos ter ganhos expressivos de latência, o que se refletirá em melhores serviços aos usuários”, completa.
Por sua vez, Paulo Bernardocki, diretor de soluções e tecnologia de rede da Ericsson, pensa diferente: “O pedido do release 16 surpreendeu o mercado, pois a Anatel não regula o aspecto tecnológico. Inclusive, a própria agência sempre falou que era um leilão de frequência. A partir do momento que coloca essa descrição, gera dúvida sobre investimentos para os participantes”, diz. Ele defende que a tecnologia de rede seja escolhida pelas operadoras e não pelo regulador.
Bernardocki acredita ainda que, se seguir o modelo com 5G SA, os players podem escolher por postergar suas posições no leilão, algo que não é visto como um bom caminho para o País, pois o Brasil está atrasado ante outros mercados na instalação do 5G. E recorda que a economia precisa de investimentos para sair da atual crise financeira.
MediaTek
Por fim, Samir Vani, country manager da MediaTek no Brasil, critica a exigência do release 16 em razão do seu custo e do tempo necessário para implementação. “O release 16 toma mais tempo e tem um custo maior. É um pouco difícil de entender quando ele (Baigorri) coloca que uma das prioridades é cobertura, mas quer trazer uma rede baseada no Release 16. O único país que faz o SA completo é a China. Mas isso demanda muito investimento”, disse o executivo em conversa com Mobile Time. Para o country manager da Mediatek, cobertura ampla e rede de última geração não combinam e o País deveria escolher um caminho ou outro.
Sobre a rede privativa do governo, Vani acredita que os debates sobre o edital do leilão devem questionar se o governo federal realmente precisa dessa rede dedicada e se não pode usar a rede dos usuários comuns, pois o custo de instalação de rede é caro, será agregado aos ofertantes e, eventualmente, repassado à população.
“O atraso é muito preocupante, mas, infelizmente, são tantas dúvidas que o governo precisa trabalhar neste sentido para que a sociedade tenha as respostas necessárias. Não adianta tomar um caminho que não faça sentido para os usuários. Acho que serão 24 dias de bastante discussão neste sentido para que a sociedade e os players alcancem o melhor caminho”, comentou.