A grande notícia da semana para o setor de tecnologia foi a aquisição do aplicativo Summly, criado por um garoto de 17 anos, pelo Yahoo. Basicamente, dois motivos puxaram as atenções para o fato: primeiro, o Yahoo está sendo gerido por Marissa Mayer, uma das mulheres mais influentes do mundo da tecnologia e, segundo, o preço foi de US$ 30 milhões, pago 90% em dinheiro. Entretanto, a primeira pergunta que me surgiu quando soube do fato é: por que o Yahoo comprou o Summly?

São vários os motivos que levam uma empresa a uma aquisição estratégica dessa magnitude. Entre os principais podemos citar a receita, o fluxo de caixa, o produto em si (por uma patente ou vantagem competitiva não copiável), a base de usuários, o time e a qualidade dos investidores de risco. Analisando os dois primeiros, concluímos que o produto não gera nenhum tipo de receita. Considerando que o caminho de uma start-up de tecnologia é buscar tração, monetização e por fim a rentabilidade, se o Summly não tem receita, também não terá um fluxo de caixa livre positivo que motive uma compra.

Tirando, então, os fatores financeiros clássicos, podemos entrar mais profundamente no produto. Será que o Summly é realmente um “matador” e traz uma tecnologia não copiável ou uma barreira de entrada forte? A resposta também é não. O que o nosso gênio adolescente fez foi licenciar (como disse Emin Gün Sire, professor de Berkley, em seu blog) a tecnologia de processamento de linguagem da Stanford Research Institute, empresa sem fins lucrativos que fez o spin off da empresa que criou o Siri e foi comprada pela Apple em 2010. Ou seja, por trás do sucesso do Summly está a mesma tecnologia que faz a Siri entender o que você fala.

Como disse Cris Taylor em um artigo na Mashable (citando novamente o Siri), é como se um engenheiro tivesse pegado um motor de moto japonês, colocado umas peças mal encaixadas e feito uma blitz de marketing. Ou seja, qualquer um de nós pode ser um criador de sucesso se utilizando de tecnologia pré-existente. É o que ele chamou de luta entre a “cola” e o “pensamento”: cola é fácil de copiar, pensamento ou inovação é o que normalmente move empresas de sucesso. O Yahoo mandou uma mensagem difusa de que avalia mais como imediatismo do que como inovação real.

Outra justificativa seria a base de usuários do Summly, formada por quase 1 milhão de pessoas. Sem se aprofundar na qualidade desses usuários e na taxa de perda (churn), poderíamos concluir rapidamente que Marissa estaria pagando um custo de US$ 30 pela aquisição de cada cliente. O que invalida essa hipótese é que a primeira coisa que o Yahoo fez foi retirar o app da Appstore, o que fez que ele não se apropriasse da mídia e do “hype” gerado pela aquisição, ou seja, quem não teve a presciência de baixar o aplicativo não pode baixar agora para entender do que se trata.

Para que o motivo seja o time, esse tem que ser brilhante ou, pelo menos, o garoto de 17 anos que conseguiu estar no meio desse acordo tem que ser brilhante. O problema da lógica de “AcquiHiring” (compra justificada pela contratação do time de excelência) é que o Summly tem só cinco engenheiros (contando com Nick D'Aloisio, o fundador) e só dois dos quatro remanescentes serão funcionários do Yahoo. Pagar US$ 10 milhões por engenheiro e ter um deles trabalhando em tempo parcial está longe de ser uma compra ortodoxa.

Por sua vez, o time de investidores é pesado, capitaneado pelo 11o homem mais rico do mundo e fundador da Horizon Ventures, Li Ka-Shing e formado por celebridades investidores como Ashton Kutcher, Yoko Ono e Rupert Murdoch.

A análise final disso tudo é uma questão de opinião. Se você pegar o valor “antes de investimento” médio do Angellist (grande diretório e marketplace de startups e investidores) para quase todas as categorias você chega em US$ 4 milhões para uma saída de US$ 30 milhões, o que dá um múltiplo de 7X. O resultado é um ótimo retorno para um portfolio pessoal, mas não é o que busca um fundo de Venture Capital, que é mais na ordem de 100X em ciclos muito mais longos. Também acredito que, em termos absolutos, o valor é pouco para Li Ka-Shing (o investimento inicial dele foi de US$ 250 mil) para justificar qualquer tipo de alavancagem sobre o Yahoo.

Por fim, se juntarmos todos os argumentos a única conclusão que podemos chegar é a de que Marrissa Mayer pagou US$ 30 milhões por um grande show de imprensa, mídia espontânea e associação da marca Yahoo a uma ideia de estado da arte de tecnologia. Poucas pessoas entendem o Vale do Silício como Marissa, então provavelmente no grande cômputo das coisas esse “PR Stunt”, como chamou a Mashable, esteja precificado corretamente. Entretanto, é um sinal do que o Vale produz de pior, a lógica “built to flip”, ou seja, criar para crescer e vender, mesmo sem substância nenhuma. Foi isso que criou a primeira bolha e destruiu quase US$ 5 trilhões de valor de mercado entre 2000 e 2002.

 

 

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