Os desafios do setor de games na América Latina são diversos e podem variar de país para país. Esse foi um dos temas debatidos durante o BIG, o festival de jogos independentes brasileiro que ocorreu em São Paulo na última semana de junho. Mesmo sendo um mercado que movimentou US$ 5 bilhões (4% do total global, segundo a Newzoo) na região latino-americana em 2018, um crescimento de 10% ante o ano anterior, o segmento tem potencial para se desenvolver muito mais em negócios.
As barreiras vão desde retenção de profissionais, altas taxas, preços de dispositivos caros (consoles, PCs e smartphones), falta de interação social, conhecimento para desenvolvimento em marketing e relações públicas. Mas uma das barreiras está em questões sociais, como a visão da violência na América Latina.
“Nós ainda temos uma imagem de países violentos, ante o resto do mundo. Isso é um dos problemas que dificulta o nosso desenvolvimento na hora de gerar negócios com países mais maduros”, disse Fernando Chammis, sócio da Webcore e ex-presidente da Abragames.
Por sua vez, Rodrigo Além Fernandez, diretor do ARF Game Studio, explicou que o problema no Uruguai está relacionado à comunicação, uma vez que falta habilidade para fazer marketing e relações públicas dos jogos. Algo que deixa muitos dos games condenados ao fracasso, em sua visão.
O criador do Kilabunnies Studio, Mariano Jorge Obeid, vê como principal barreira os impostos cobrados em seu país, além do alto preço de consoles e smartphones: “Na Argentina, você paga algo como 70% da receita que você recebe com jogos mobile do exterior. Torna quase qualquer negócio em jogos inviável”.
Já Antonio Uribe Fayer, cofundador e diretor da HyperBeard, acredita que os problemas do desenvolvimento do setor de jogos estão relacionados à interação no seu país, México. Ele explica que o jogador nortista não interage com o gamer sulista, e vice-versa. Ressaltou que, por estar muito próximo dos Estados Unidos, Canadá e Europa, é muito comum perder engenheiros, designers e desenvolvedores para os mercados mais maduros.
Positividade
Mas há também pontos positivos em mercados específicos na região. Gabriel Páez, CTO da Posibillian Tech, por exemplo, explicou que a cena no Paraguai tem suas vantagens, como baixos custos de dispositivos. Isso gerou um sucesso temporário em alguns jogos móveis que produziram.
Paéz ressaltou ainda que, hoje, o desenvolvimento de seus jogos começa a ter mais foco fora da América Latina, especialmente para a Ásia. O caso é similar ao relatado por Fayer, da HyperBeard, que possui apenas 1% das suas receitas oriundas de gamers mexicanos. E o brasileiro Chammis lembra que o brasileiro é muito engajado socialmente, o que permite a jogos com interação online terem mais escalabilidade.
Por fim, Além Fernandez explicou que o Uruguai tem dois fatores que estão auxiliando o desenvolvimento do segmento de jogos: “Nós temos o crescimento do cenário de eSports do país. 10% da população acompanha torneios esportivos hoje. E uma área que tem grande desenvolvimento e potencial é a de games para educação, devido ao programa governamental que dá um notebook para cada estudante da rede pública”.