O chief business officer na KaiOS, Nicolas Zibell, afirmou que a parcela da população mundial que tem dispositivos móveis 2G não consegue migrar para 3G, 4G ou 5G porque os aparelhos dessas tecnologias são caros: “Na KaiOs, falando e fazendo pesquisas com nossos clientes, nós vemos que a maior barreira para eles é que comprar um smartphone é muito caro”, afirmou o executivo.
“Nesta sala, todos nós temos um smartphone. E acreditamos que é importante e traz estabilidade (para nossas vidas) ter um. Mas na maioria das pessoas que moram em países em desenvolvimento ter um smartphone é muito caro. Me lembro de um estudo da GSMA que diz: para comprar um smartphone, a pessoa precisa ter US$ 14 de ganho diário. Nós sabemos que bilhões de pessoas sobrevivem com valores bem abaixo disso”, afirmou Zibell, durante sua passagem no MWC 2021, em Barcelona, nesta quinta-feira, 1º.
Importante dizer, um relatório recente do Banco Mundial revelou que 40% da população mundial vive com menos de US$ 5,50 por dia, o equivalente a 3,3 bilhões de pessoas. Além disso, John Giusti, chief regulations officer na GSMA, lembrou que o mesmo percentual de pessoas tem cobertura, mas não acessam redes celulares. Outro dado da associação das operadoras revela que o preço médio dos handsets chega a US$ 200 em muitos países em desenvolvimento.
Zidell afirmou que há outros problemas que precisam ser resolvidos como:
– O acesso das populações mais pobres a serviços digitais, como saúde e documentação do governo;
– Clareza das operadoras na hora de cobrar os dados;
– Falta de conteúdo web para todos os idiomas;
– Usabilidade e analfabetismo.
Como combater
Dando o exemplo da própria KaiOS, Zibell acredita que o primeiro problema a ser resolvido é o acesso da população a dispositivos digitais mais baratos, que saiam do “basicão” com voz e SMS para um smart feature phone com 4G e apps como Facebook, WhatsApp e o conjunto do Google Services.
Em relação a dados, o executivo afirmou que é importante as operadoras mostrarem quanto custa aquele dado, de modo que o consumidor saiba porque está pagando, e, eventualmente, se precisar, aumenta ou diminui a franquia. Neste caso, ele deu como exemplo o GeoPhone, uma iniciativa que vai embarcada em dispositivos com KaiOS e tem uma franquia de dados configurada para um ou dois anos de uso com preço baixo.
Sobre conteúdo na web, o chief business officer da empresa de software móvel lembra que 95% do conteúdo da Internet está concentrado em dez línguas, enquanto há 7 mil idiomas que existem no mundo. Para resolver esse problema, um esforço da KaiOS foi feito com provedores de conteúdo de Nigéria e Tanzânia para levar a informação relevante ao usuário.
Sobre UX e analfabetismo, Zibell afirmou que é preciso começar com pequenos passos, como o uso de voz na comunicação e uso de aplicativos móveis. Pelo lado do governo, o executivo clama pelo aumento de serviços digitais móveis, de modo que o cidadão não precise perder horas para resolver burocracias.
“Todas essas celeumas podem ser resolvidas com o digital, mas é preciso ensinar e gerenciar. É importante dizer que tudo isso é uma combinação de pequenos passos em todas as áreas da indústria. Governos, operadoras, fabricante, produtores de conteúdo. Ou seja, é uma cadeia de diversos elementos que faz acontecer”, completou.
Operadoras
Pelo lado das operadoras, Mohammed Samiul Islam, dono da Z Tech, uma empresa de Bangladesh, explicou que oferece acesso à Internet com preço baixo ao trabalhar com o tripé de redução de custos, modelo de negócios e serviços comunitários. Subsidiado pelo governo local, ele oferta conectividade via Wi-Fi e cabo de maneira híbrida. Além disso, o modelo de negócios traz duas alternativas para o consumidor: mensalidade e pay as you use, com o cliente pagando pela quantidade de dados que usa no mês. Em comunidades, a operadora possui espaços para as pessoas usarem a Internet livremente, inclusive com locais dedicados às mulheres.
Outra companhia que tem atuado sobre esse problema é a britânica BT. Segundo Marc Allera, CEO das marcas de consumo da BT, a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) mostrou que grande parte dos seus clientes tem dificuldades de acesso às novas tecnologias, e está fora da economia digital.
“A pandemia mostrou que muitos de nossos clientes no Reino Unido não têm as habilidades digitais básicas. Isso acontece devido a uma lacuna no currículo educacional e em políticas locais. Nós estamos falando de centenas de milhares de famílias sem acesso à Internet ou ferramentas para acessá-la”, explicou Allera.
“Isso é algo que não podemos esperar que o governo resolva. Como parte importante do ecossistema de telecomunicações do Reino Unido, nós estamos trabalhando para educar e treinar os consumidores em habilidades digitais. E criamos pacotes mais baratos para levar conectividade ao preço mais baixo possível para aqueles que necessitam”, completou o CEO da BT.