Venda avulsa, clube do livro, assinatura mensal com acesso ao catálogo completo e até publicidade: há inúmeros modelos de negócios possíveis para a venda de ebooks e audiolivros, cada um com suas vantagens e desvantagens. Em painel durante o evento online Mobieditorial, organizado por Mobile Time, nesta terça-feira, 2, com representantes de plataformas digitais de livros e audiolivros, ficou claro que não há um modelo único vencedor. O importante é encontrar aquele que melhor se adapte para cada estilo de usuário e que, ao mesmo tempo, remunere adequadamente toda a cadeia de valor do mercado editorial.
Os debates giraram em torno, principalmente, da disputa entre posse e acesso a livros. Renato Marcondes, diretor de desenvolvimento de negócios da Verisoft, entende que o consumidor final, especialmente os mais jovens, acostumados com Netflix, querem um modelo de assinatura mensal, como um streaming de livros, para poderem experimentar a leitura de vários títulos. Mas ressaltou que o modelo de clube do livro, em que um ebook é entregue por mês para o usuário, tem o benefício de gozar da mesma imunidade tributária dos livros físicos. A Verisoft trabalha com os dois modelos e entende que eles podem coexistir.
Por sua vez, Rodrigo Meinberg, CEO e cofundador do Skeelo, defendeu o modelo de clube do livro como sendo o mais justo para todos os atores da cadeia, ou seja, para as editoras e os autores também. Ele fez uma comparação com a indústria da música: “Na música é possível encaixar o modelo de streaming. Em 20 minutos você escuta dez músicas e consegue remunerar bem todos esses artistas. No caso do livro, não. Falar que está vendendo streaming para um produto que tem um tipo de consumo de conteúdo mais lento – você não lê um livro em 20 minutos – não é possível. A chance de você montar um modelo de negócios que faça sentido para o autor, para a editora e para o agente é muito difícil. Já quebramos a cabeça em vários formatos de streaming. E, se eu fosse autor ou editor não aceitaria também, porque vou acabar recebendo um pedaço pequeno que no final do dia não vai fazer sentido investir nisso. É preciso se colocar no lado de quem está vendendo ou fazendo um acordo. (A editora) vai ceder seu principal ativo, que levou anos para ser produzido, em troca de um modelo que você vai dividir a receita com 10, 20, 30 mil livros e que não necessariamente tem o mesmo apelo do seu livro? No Skeelo equacionamos o modelo. As editoras e os autores estão satisfeitos. Achamos o formato que neste momento de mercado faz sentido”, afirmou Meinberg.
Mariana Rolier, publishing manager do Storytel, por sua vez, lembrou que o modelo de streaming funciona para audiolivros, como prova a empresa sueca há cerca de 20 anos.
A executiva contou que o modelo funciona em especial para a nova geração, que usa o streaming como uma forma de pular de conteúdo em conteúdo, experimentando um pouco de cada. Ou seja, pode começar um livro, mas não o terminá-lo, e tudo bem. E a editora vai receber o proporcional a essa audição.
Rolier argumentou que o streaming é o modelo ideal para experimentar os produtos e que existe um modelo de consumo por minuto, ou seja, quanto mais tempo o usuário ouve o audiolivro, mais o autor ganha, por exemplo. “Todo o mundo sai satisfeito no final”, completa.
O debate também levou João Leal, cofundador e CEO da Árvore, a intervir e lembrar que as industrias da música e do vídeo sofreram muito com o avanço da Internet por conta da pirataria e que precisaram se mexer para lutar contra as perdas que sofriam. “No livro, o impacto foi menor. Não dá para pensar só na indústria, mas tem que pensar no novo usuário e o que faz mais sentido para ele, para as editoras e para os autores. O modelo de streaming será mais relevante quando tivermos mais assinantes”, completou.
Marcelo Gioia, managing director Brasil da Bookwire, também vê o streaming como um meio essencial para o audiolivro. “É preponderante na nossa receita”, resume o executivo, que explicou que o meio tem crescimento de até três dígitos mensais. “Dois dígitos todos os meses com certeza, com picos de três. Temos experiências mundiais consolidadas que respeitam essa nova geração, onde o acesso à biblioteca é importante, para usar como quiser”, disse.