| Publicada originalmente no Teletime | Com a decisão do Conselho Diretor de aprovar o prazo adicional de 60 dias para a liberação da faixa de 3,5 GHz, foi divulgado no sistema da Anatel o relatório do conselheiro Emmanoel Campelo que contemplou a proposta trazida pelo GAISPI, o grupo de acompanhamento da interferência na frequência. Nesse documento, Campelo destaca que é possível que algumas capitais adiantem a limpeza e, consequentemente, o início da operação do 5G.
Não será uma tarefa fácil. As chamadas de propostas (RFP, na sigla em inglês) mostraram que os diferentes equipamentos necessários para a mitigação da banda C estendida (3.625-3.700 GHz) não chegariam a tempo de cumprir as demandas do prazo original. E poderá ser necessário mais LNBs com filtros embutidos do que o esperado.
O GAISPI não considera que o prazo adicional signifique “retardo significativo” na implantação do 5G, mas sim uma “garantia de segurança de todo o processo”. O entendimento do grupo é que a entrega parcial de filtros e LNBs poderia liberar “algumas capitais” a partir do dia 30 de junho. Isso com o “ações de contingência e a aplicação de soluções de engenharia” para acelerar a liberação de mais capitais. O documento não define quais seriam essas capitais, mas pela tabela abaixo, é possível verificar que cidades como Vitória demandam menos estações para as ações de mitigação.
Mitigação
Com base nas RFPs, foi possível visualizar o cenário. Para as estações do serviço fixo satelital (FSS) operando na faixa de 3,8 GHz a 4,2 GHz, será instalado um “filtro standard” (padrão). Para a 3,7-3,8 GHz, “nos casos em que for possível”, as estações utilizarão um “filtro enhanced” (melhorado).
A Entidade Administradora da Faixa de 3,5 GHz (EAF) reportou ter feito RFPs com 52 empresas, mas com resposta apenas de oito delas. E a resposta foi que a capacidade dessas companhias não atenderia a demanda para entregar a faixa de 3,5 GHz até 30 de junho. Segundo o GAISPI, o mercado só consegue entregar 400 filtros acima de 3.800 MHz até a data.
O fato é que os LNBs abaixo de 3,8 GHz foram considerados o grande gargalo. Para soluções filtro enhanced abaixo dessa faixa são aproximadamente 357 estações necessárias. Mas o mercado não conseguiria atender apenas no prazo o também: as empresas estimaram que só conseguiriam entregar 50 equipamentos até 30 de junho. E no dia 15 de julho, mais 100 LNBs. A necessidade plena do projeto (1.011 equipamentos) só poderia ocorrer no dia 31 de julho. “Por esses motivos, foi exposto que esse é o contexto que mais preocupa a EAF, dado que a expectativa é que a solução do LNB com filtro embutido será necessária em maior número de estações, alternativamente, à solução primária deliberada na 1ª Reunião Extraordinária do GAISPI de filtros enhanced.”
Desocupação
Apenas cinco propostas, das 31 empresas procuradas, foram encaminhadas na RFP. A demanda é de 174 estações nas capitais, além de eventuais estações nas adjacências. O prazo médio para a instalação é de dois meses, mas no caso de Manaus e Belém, isso se estenderia para algo entre 90 e 135 dias por conta de “questões técnicas referentes à localização das estações”. Diz o relatório que a capital amazonense teria uma “situação bastante particular, haja vista a localização de estação master no centro da cidade, o que acarreta grande dificuldade ao projeto”. No caso da cidade do Pará, a estação estaria mais distante do centro urbano, com possibilidade de testes em campo para atingir a data mais próxima do que os 135 dias.
A EAF já iniciou o trâmite para a aquisição dos equipamentos, mas esse prazo médio para a maioria das capitais também motivou a decisão de conceder mais 60 dias para a limpeza da faixa.
TVRO
As RFPs para o processo de migração da banda C para a Ku foram concluídas no último dia 29 de abril. Foram convidadas 34 empresas, das quais 19 apresentaram propostas. A estimativa é de que deveriam ser aproximadamente 257 mil kits, com receptores (caixinha), filtros LNBF e antenas.
O GAISPI colocou que o lockdown na China, a escassez de semicondutores, transporte aéreo para cumprimento de prazos e questões relativas ao desembaraço aduaneiro foram pontos relevantes nas dificuldades logísticas. Ainda assim, diferente do caso da banda C estendida para equipamentos profissionais, concluiu-se que isso não seria impeditivo para o cumprimento dos prazos originais no caso das TVROs.