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|Matérias publicada originalmente na Agência Pública como parte do projeto Sentinela Eleitoral|

Na noite de 17 de julho, um domingo, o ministro Alexandre de Moraes determinou que diversos perfis excluíssem posts de desinformação que ligavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido, o PT, com a organização criminosa PCC. Moraes determinou que os perfis do Twitter de Max Guilherme Machado, pré-candidato a deputado federal, e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apagassem esses posts. Outros 10 perfis no TikTok, Youtube, Instagram, Facebook e Kwai – como dos deputados Hélio Lopes (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP) – também foram alvo da decisão.

Levantamento da Agência Pública mostra que, durante o mês de julho, houve dois picos na quantidade de tweets e engajamento em postagens relacionando o PT ao PCC. O primeiro foi no dia 2 de julho, decorrente da repercussão da reportagem da Veja, que publicou trechos antigos da delação premiada do publicitário Marcos Valério – dada em 2017 –  em que ele afirma que petistas teriam relação com o PCC. O segundo foi no dia 18, após a decisão do ministro.

Nos meses anteriores, a média de mensagens contendo os termos PT e PCC foi de 35 por dia em maio e de 168 por dia em junho. Em julho, o número subiu para 2.363 mensagens por dia.

Foram levantadas 43.126 publicações no período entre 1 e 16 de julho. Após a decisão de Alexandre de Moraes, houve uma queda de 30,1%: foram publicados 30.157 tweets no restante do mês.

Entre os perfis que mais publicaram, estão mensagens genéricas como “PT e PCC” para alavancar o tema, feitas pelos usuários @B22Bolsonaro8 e @ElonBolsonaro22. Já na análise de tweets com mais interações (soma de likes, respostas e retweets), estão postagens feitas pelos perfis de @RConstantino (mais 66 mil interações) @AnaPaulaVolei (mais de 44 mil interações) e @taoquei1 (cerca de 45 mil interações). O conteúdo ironiza a decisão do STF: “Não devo então falar da suposta ligação do PT com o PCC ou de qualquer possibilidade de envolvimento de Lula na morte de Celso Daniel, certo? É pra deixar quieto esse assunto, copia?”, diz um dos tweets com maior repercussão de Rodrigo Constantino, com mais de 53 mil curtidas e 10 mil retweets.

No Telegram 

Nenhuma conta de Telegram foi afetada diretamente pela decisão judicial. Mesmo assim, levantamento feito pela Pública em 110 grupos bolsonaristas mostra que os comentários também foram reduzidos na plataforma após a data. A reportagem analisou mensagens entre os dias 1 e 16 de julho, período em que o assunto esteve em alta, e entre os dias 17 e 31 de julho, após a decisão do ministro. No primeiro período, houve 1.152 postagens em 42 grupos.

No segundo período, houve uma queda de 56,8% na quantidade de mensagens em relação às duas semanas anteriores.

Depois da decisão, houve 497 postagens. O “Grupo Renato Barros Questione-se”, com 12.385 membros, teve destaque: foram 60 mensagens que relacionavam o PCC ao PT e 30 que relacionavam Lula ao PCC. Entre as mensagens encontradas, destacam-se ataques ao ministro e frases reafirmando a ligação entre o partido e a facção.

Um dos membros afirmou que Moraes “está obedecendo ordens dos patrões…tô falando do PCC e não do PT”, revivendo fake news que circulou em 2015, quando foi divulgado que o ministro teria como cliente uma empresa investigada por lavar dinheiro para a facção. A ligação nunca foi comprovada.

O grupo “Brasil & Bolsonaro”, com 3.384 integrantes, foi o que teve mais mensagens ligando o assassinato de Celso Daniel ao PT: foram 14 mensagens de 86 encontradas após a decisão. Dentre as principais, estão queixas de que Alexandre estaria interferindo na campanha eleitoral e convites para continuar espalhando as fake news.

O levantamento mostra que, embora tenha tido efeito na rede de mensagens, o boato segue sendo propagado.

Segundo Luiza Bandeira, pesquisadora de desinformação, é natural que grupos restritos sigam espalhando informações falsas mesmo depois de ações da justiça. Para ela, concentrar os esforços em grandes perfis e pessoas influentes é uma boa estratégia para frear desinformações, principalmente durante o período eleitoral.

“É muito difícil você resolver o problema de uma narrativa que está circulando porque você proibiu. Mas você pode diminuir, fazer com que as pessoas tenham uma consciência maior de que falar daquilo pode ser considerado um problema. Tem uma coisa muito forte de sinalizar que esse comportamento não vai ser tolerado”, diz.

“Mais do que impedir, você gera pequenos impedimentos para as pessoas com esse tipo de ação”, diz.

Ela faz uma analogia com as infecções do vírus da Covid-19. “Tínhamos aqueles super transmissores, pessoas que iam a uma festa e infectavam 20 pessoas. É assim a viralização nas redes sociais: são pessoas que têm um megafone, uma base muito grande de ouvintes e é a mensagem delas que chega a todo mundo. Se você consegue fiscalizar esses grandes atores, já está sendo muito eficaz porque está parando quem mais influencia o debate”, afirma.

Porém, Bandeira considera o fato da decisão só focar em determinadas redes “uma falha”. “São esses grandes atores que temos que tentar parar neste momento, não importa em qual plataforma que estão”, completa.

 

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