O aplicativo Rede Azul (Android) nasceu da necessidade de Elaine Marques encontrar indicações de especialistas capazes de trabalhar o desenvolvimento de sua filha. Alícia tem Síndrome de Asperger, nível leve do Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas passou quatro anos de sua vida com o diagnóstico errado, tomando, inclusive, medicamentos desnecessários e somente aos 12 foi diagnosticada corretamente. A demora em descobrir o que Alícia realmente tinha motivou Elaine e o marido a desenvolverem um aplicativo colaborativo para que as famílias tivessem acesso a informações de especialistas de maneira mais rápida e eficiente.
Uma vez com o diagnóstico correto, Elaine começou a procurar os especialistas e foi atrás de indicações. Mas não havia um lugar para isso. É possível encontrar no Google, mas a recomendação de alguém que passou pelo especialista refinaria ainda mais sua busca. Afinal, como saber se aquele profissional realmente serviria para o seu caso específico? Pensando em valorizar as recomendações, Marques desenhou um app que reunisse as indicações e que elas fossem feitas por outras famílias.
O Rede Azul é dividido por categorias: escolas, médicos, terapias, cursos, capacitações para professores ou responsáveis, agências de turismo (capazes de atender e fazer uma programação que contemplem as necessidades de um autista) e até despachante (profissional necessário para as famílias que recebem descontos em alguns produtos como automóveis).
“Com tudo organizado e as informações na palma da mão, as portas se abrem. Eles passam a viver e a serem incluídos”, explica. “São mais de 2 milhões de autistas no Brasil. E 400 mil só no estado de São Paulo. Esse dado é de 2010, ou seja, está desatualizado. De qualquer forma, estamos falando de uma parcela muito grande da população”.
O Rede Azul foi lançado no dia 19 de dezembro de 2019 e concentrava-se na região metropolitana de Campinas. Mas a procura por pessoas de outras cidades e estados foi rápida. Atualmente, o aplicativo conta com indicações de pessoas que estão em 14 estados brasileiros em mais de 40 cidades.
Por medida de segurança, o responsável interessado em dar dicas precisa entrar em contato com Marques via Instagram, pedindo para ser um colaborador. “A ideia é que a pessoa interessada em fazer o movimento realmente se dê o trabalho, e, dessa forma, conseguimos eliminar quem não é da causa ou os mal intencionados.”
Ao todo, 1 mil pessoas baixaram o app. Porém, quem entra no aplicativo e não encontra dicas em sua cidade é convidado a entrar em contato com Marques via Instagram. “Acabo incentivando a pessoa a repassar as informações que já sabem. O app gera um trabalho de voluntariado bem forte”.
Futuro e modelo de negócios
A ideia é que o Rede Azul não se limite a autistas, mas expanda para outras comunidades de pessoas com deficiência, como síndrome de down, deficientes físicos etc. “Comecei com o autismo porque era a minha dor e onde temos mais experiência para desenvolver o projeto. Mas a ideia é crescer e atender a mais famílias”, explica.
Como está no início, o Rede Azul ainda estuda modelos de negócio para ser autossustentável e se expandir para outras causas. O aplicativo conta com um investidor anjo, que preferiu não se identificar, que paga metade de seus custos. Mas Marques pensa em, futuramente, oferecer produtos e serviços da Rede Azul, como capacitações feitas por especialistas e consultorias desenvolvidas em parcerias com pais e mães que passaram a capacitar hotéis e bufês infantis, por exemplo. “Não abro mão que as dicas dadas pelas famílias sejam gratuitas. Vamos inserir novas telas com esses produtos e serviços. Esses, sim, serão pagos.
A próxima atualização também contará com uma página para vagas de empregos para autistas e, em breve, o app estará disponível na App Store e usuários de iOS poderão baixá-lo.