A ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) se uniu com a SPI Integradora para desenhar e coordenar um dos maiores projetos de incentivo à Indústria 4.0 do Brasil, algo que envolve academia, governo, indústria e empresas de tecnologias. Batizado como Metaindústria, o projeto nasce oficialmente nesta quinta-feira, 3, a partir do lançamento do Metaindustry Lab, que servirá para testar diversas aplicações, do 5G da Nokia à realidade estendida da Qualcomm, além do Metaverso acelerado pela NVIDIA.

“O que a ABDI quer é ser referência na adoção e na promoção de soluções inovadoras. Com incentivo à adoção de tecnologias. A partir dessa integração de tecnologias de forma coordenada (pela SPI) com a participação de vocês (empresas), nós acreditamos que esse projeto é a inovação e que isso faz a diferença no futuro”, disse Junia Cardoso, chefe de gabinete da ABDI.

Para Marcos Barbosa, CEO da SPI, o espaço servirá para gerar negócios, valor e eficiência: “Não tem almoço grátis. Precisamos alavancar a indústria. O negócio está aberto, escancarado e a competição, acirrada. A tecnologia é o meio de reverter isso, temos pessoas inteligentes que podem colaborar para construir esse ecossistema colaborativo. Podemos ajudar as empresas brasileiras a produzir mais com menos, a partir da tecnologia”, completou, ao representar a integradora que coordenará os esforços.

Metaindústria

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Junia Cardoso, chefe de gabinete da ABDI (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Inicialmente, o grupo de apoio do Metaindústria conta com uma série de grandes companhias ligadas de algum modo à indústria. Se considerar só o Brasil, essas empresas impactam 15 milhões de pessoas. Estão entre elas: Qualcomm; SiDi (Instituto de Ciência e Tecnologia); Nokia; Nokia Bell Labs; Siemens; NVIDIA; Universal Robots; Rockwell Automation; Dassault Systèmes; Labsoft; Promon Engenharia; RVC; Eletronor; TD Synnex; N&DC; Dimensional; Edge; Virtual Plant; F2iT; Contric; ESS; ESSS; SGS; Phoenix Contact; e Omron.

Também vale dizer que haverá apoio da academia, com a participação de Politécnica da USP, Unisinos e FIAP.

Ao todo, a iniciativa durará dois anos e terá como foco modelos de negócios, redução de risco da transformação digital e preparação da mão de obra em 100 pequenas e médias empresas. A inclusão das 100 empresas no projeto será criteriosa e deve envolver apenas aquelas que têm algum grau de transformação digital, e não as que estão no começo da jornada. Essas empresas passarão por treinamento e imersão no SPI, mentoria com líderes do mercado e criação de provas de conceito.

Após ficarem prontas, essas PoCs serão apresentadas como e-books. Esse material será divulgado pela ABDI para ajudar outras empresas – de todos os tamanhos – avançarem para a indústria 4.0. Ainda há a possibilidade de a ABDI financiar a PoC para ser escalada na companhia que fizer seus testes, uma vez que haverá uma linha de financiamento para isso.

A inscrição pode ser feita no site http://www.metaindustria.abdi.com.br.

Aplicações

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Exemplo de POC de gêmeo digital da Dassault (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Paralelamente, o Metaindústria reunirá essas grandes empresas para criar casos de uso em dois laboratórios, um em São Caetano do Sul (com 1 mil metros quadrados), cidade do ABC Paulista, e outro a ser lançado em Porto Alegre. O espaço será controlado e acompanhado pela central de comando da ABDI, o Data ABDI, em Brasília.

A concepção desses laboratórios visa comprovar aplicações em gestão industrial, manufatura, equipe de trabalho, evolução da fábrica, processamento de atividade com o que há disponível na tecnologia – como controle de equipamento, visão computacional na operação, realidade estendida para treinamento, análise de dados, robótica acompanhada por humanos –, além de criar gêmeos digitais de equipamentos e insumos.

“Queremos garantir que as experiências sejam aderentes à realidade. Não em animações, mas como será nos próximos 18 meses. No caso da IA, por exemplo, nós vimos que existe uma lacuna para a preparação de dados e a sua aplicação. É como um hospital sem remédio”, disse Bruno Araújo, head de difusão tecnológica da ABDI. “Cooperando, comunicando e coordenando esses esforços, nós vamos orientar para as empresas enxergarem oportunidades de negócios, mitigarem os riscos de mudança e desenvolverem capacitações (de pessoas)”, completou.

Os laboratórios e os espaços da ABDI receberão rede 5G da Nokia. Segundo Renato Bueno, head de digital industries na sales Latam e customer experience da Nokia, a rede será 4G (core principal) e 5G non-standalone (PICO) nas frequências de 3,7 GHz e 700 MHz, que foram pleiteadas junta à Anatel como rede privativa, além de Edge de prateleira.

A base da Metaindústria serão as plataformas da NVIDIA Omniverso e Cloud XR. Segundo Marcel Saraiva, gerente de vendas da companhia na América Latina, o Omniverso é a porta de entrada para a indústria no Metaverso, seja com a criação do chão em 3D ou a replicação como gêmeo digital. E o Cloud XR entra com a capacidade de transmitir dados do Datacenter, com 5G, acompanhar o dispositivo na ponta. “Todo mundo conhece a gente como hardware, mas aqui o segredo está no nosso software. Vamos criar um laboratório em São Caetano do Sul, e em Brasília vai ver no workstation ou óculos de realidade virtual com tecnologia da Qualcomm”, completou, ao mostrar que o esforço também une rivais.

Dia 30 de agosto, os espaços de Brasília e São Caetano do Sul serão integrados, a partir de um lançamento na sede da ABDI. E em 30 de setembro será a vez do laboratório em Porto Alegre.

Análise

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Marcel Saraiva, gerente de vendas enterprise da NVIDIA no Brasil (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Este projeto da ABDI com a SPI e outras grandes empresas é talvez o primeiro grande esforço coordenado da indústria nacional em Internet das Coisas e Indústria 4.0. Ou seja, tudo aquilo que foi prometido no Plano Nacional de IoT em 2018 começa a ganhar forma e tem capacidade de iniciar a reforma da indústria brasileira.

Um ponto bastante enfatizado pelo sócio-diretor da SPI, Élcio Brito, é que o Metaindústria dará à ABDI a capacidade de criar sua “Tabela FIPE” da Indústria. Ou seja, o Data ABDI passa a ser uma ferramenta para gestores de indústrias de todos os tamanhos terem uma noção das aplicações e dos seus preços, como uma fábrica conectada com 5G (ou 4G) e sensores IoT. Inclusive, se bem realizado, o projeto pode colaborar para o começo do sistema aberto na indústria brasileira, o Open Industry.

É um recomeço para a indústria nacional, após uma década perdida.

Por fim, o projeto da ABDI e da SPI mostra que o Metaverso não morreu. Talvez esteja longe, ou aquela visão de Mark Zuckerberg e da Meta estejam mais distantes. Mas a realidade é que o Metaverso começa pelas grandes corporações e pela replicação das máquinas no universo digital, ou seja, os gêmeos digitais.

 

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