“Eu sei que seu sonho é ouvir de mim: existe uma medida tecnológica que vai melhorar o risco de sequestros relâmpagos envolvendo o Pix. Mas não tem”. Sorrindo, o engenheiro Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, empresa de segurança que elaborou todo o modelo de criptografia do Pix, jogou uma espécie de “balde de água fria” na esperança de termos uma bala de prata que vá solucionar esta questão. Quando se trata de problema de segurança pública e de comportamento de usuários, diz ele, não há tecnologia que resolva.
“Existe um paradoxo entre segurança e facilidade. O BC inventou algo para facilitar a vida das pessoas: o Pix. Aí vem a segurança e dificulta, pedindo diversas senhas, reconhecimentos, autenticações. O usuário reclama, pois acha que isso o importuna, dificulta sua vida. Mas, se ele for roubado, também vai reclamar. É um paradoxo”, observou Zanini, em conversa com Mobile Time.
Quando se trata do aumento de sequestros relâmpagos registrados pelas polícias estaduais, em que bandidos exigem transferências por Pix para liberar as vítimas, Zanini acredita que só existem duas formas de diminuir este risco: fortalecendo o mecanismo de autenticação nos apps dos bancos, e o ponto mais nevrálgico: a abertura de contas. “As carteiras digitais estão permitindo que se abram contas de ‘laranjas’, que não têm como serem rastreadas. Se existe alguma ação tecnológica que pode ser melhorada é o processo de abertura de contas. Se você tiver um controle forte do destinatário, resolve o problema de transferência fraudulenta”, disse.
Zanini explicou que o Pix usa um sistema sofisticado de criptografia, que não tem histórico no mundo inteiro, um protocolo chamado ISO 20022. “Trata-se de um protocolo seguro de transferência. Se alguém tentar interceptar a mensagem em algum lugar não vai conseguir pois ela está criptografada. Mas tudo começa no app do seu banco: o seu acesso cabe a cada banco, e este é um ponto de vulnerabilidade”, lembrou.
Segundo ele, as medidas de restrição adotadas recentemente pelo Banco Central, como o limite de R$ 1 mil para transferências no período noturno (das 20h às 6h) pelo Pix, são ineficazes. “Talvez seja muito mais uma decisão política do que de segurança. Limitar o valor não adianta nada. A maior parte dos brasileiros não tem R$ 1 mil na conta. E mais: se o ladrão perceber que tenho o dinheiro, vai ficar comigo até conseguir tudo”, completou.