A venda do controle da brasileira 99 para a chinesa Didi por R$ 960 milhões é o negócio mais importante já realizado por uma start-up nacional de tecnologia móvel. Chama a atenção não apenas o valor, que é substancial, mas o momento crucial da aquisição. A 99 vive uma encruzilhada. Depois de uma ascensão meteórica em seus primeiros anos de operação, tendo conseguido conquistar a liderança entre apps de táxi, superando a então rival Easy, a empresa perdeu espaço nos dois últimos anos com a popularização da Uber no Brasil. Isso fica claro ao analisarmos os resultados das pesquisas Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre comércio móvel. Na edição de abril de 2016, o 99 era o app preferido de transporte privado individual do brasileiro, apontado por 45% dos usuários desse tipo de aplicativo, enquanto o Uber aparecia na segunda posição, com 21%. Um ano e meio depois, na edição de outubro deste ano, o cenário mudou drasticamente: o Uber conquistou a liderança absoluta, sendo apontado como o preferido por 86% dos usuários, e o 99 está distante no segundo lugar, citado como o preferido por apenas 6%. Foi uma queda radical em apenas 18 meses.

Para competir contra a Uber, a 99 decidira alguns anos atrás não se limitar mais ao mercado de táxis, adicionando ao seu app a opção de corridas em carros particulares, o serviço 99 Pop, com preços mais baratos que aqueles praticados nos taxímetros. O movimento, porém, não foi bem aceito pelos taxistas: muitos consideraram que a 99 os traiu na briga contra a Uber. Para complicar, este ano a prefeitura do Rio de Janeiro lançou um aplicativo para taxistas chamado Taxi Rio que não cobra nenhuma taxa dos motoristas sobre o valor das corridas. Resultado: os motoristas cariocas estão aderindo ao novo app e fazendo propaganda dele para os passageiros, porque é mais vantajoso financeiramente para eles que o 99. Outras capitais devem seguir o mesmo caminho, incluindo São Paulo.

As perspectivas seriam negativas para 99 se não estivesse em andamento uma disputa internacional entre a norte-americana Uber e a chinesa Didi, que começa agora a sua expansão para fora da China. Para a sorte da 99, a concorrente Easy foi comprada em junho por outro player estrangeiro com planos de expansão na América Latina, a espanhola Cabify. Sobrava para a Didi, como melhor opção na região, a aquisição da 99. E sobrava para a 99, como melhor saída diante da atual situação, a venda para um player estrangeiro. Ponto para ambos.

Nessa breve história do mercado brasileiro de apps de táxi, vale lembrar que a Easy havia sido mais ambiciosa, tentando se expandir ao redor do mundo e chegando a operar em 33 países diferentes, incluindo alguns na África e na Ásia. A 99, ao contrário, concentrou sua operação no Brasil, estratégia que se mostrou acertada, pois lhe ajudou a conquistar a liderança local e não a fez perder dinheiro no exterior. Agora com a ajuda da Didi, vai poder montar com calma e com o devido apoio financeiro a sua expansão para fora do Brasil – provavelmente para o resto da América Latina.

 

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