Os investimentos em infraestrutura de telecomunicações são proporcionalmente mais altos no Brasil se comparados com outros países. E a concentração de tráfego pelas big techs está diretamente relacionada à estagnação do retorno sobre o capital empregado na rede. Se a média mundial do reinvestimento de capital na infraestrutura de rede chega a ser entre 25-30% da receita, no Brasil, as teles atingem 50%. Os dados constam no relatório elaborado pela consultoria Alvarez & Marsal, e que serviu de base para a sugestão da Conexis para a segunda tomada de subsídios feita pela Anatel sobre a responsabilidade dos usuários de rede. Um dos autores do estudo, Igor de Freitas, conversou nesta terça-feira, 4, com a imprensa.

De acordo com Vilas Boas, o Brasil tem um nível de eficiência muito bom se comparado com as principais operadoras do mundo (AT&T, Verizon, Vodafone, Deutsche Telekom, as asiáticas, entre outras), ou seja, a proporção entre receita que gastam para prestar serviços e a margem EBITDA. Mas qual a diferença entre as brasileiras e as outras telcos?

“Em média, metade da geração de caixa operacional no Brasil tem sido reinvestida na rede todo ano para fazer frente a esse crescimento de demanda, para fazer frente à mudança na própria arquitetura do tráfego, para fazer frente à concorrência e às obrigações regulatórias num país extenso territorialmente”, explicou o ex-conselheiro da Anatel e atual diretor executivo da consultoria Alvarez & Marsal.

De acordo com Freitas, as taxas de investimentos nas redes devem ser mantidas para atender as obrigações regulatórias, a demanda crescente de tráfego e fazer frente à concorrência. “Obviamente, não há nem intenção nem espaço para que elas (operadoras) ajustem esse nível de investimento. Mas esse investimento não está sendo remunerado porque dois terços da capacidade construída de rede com esse mesmo investimento está sendo ocupado por empresas que não remuneram proporcionalmente esses serviços”, critica.

Freitas diz ainda que, ao comparar o retorno sobre capital empregado em telecom com os das OTTs, vê-se a receita de telecom caindo há 10 anos entre 15% e 20% enquanto a das big techs cresce mais de 20% no mesmo período. “O que é muito acima do custo de capital global dessas empresas. O custo de insumo de telecomunicações não está sendo internalizado pelas OTTs. Elas não estão pagando de forma proporcional pelo custo do principal insumo que elas têm, que é a capacidade de chegar com o serviço digital ao assinante”, conclui.