De quatro em quatro anos acontece a Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC, na sigla em inglês), na qual representantes de países do mundo inteiro se encontram para discutir a destinação de faixas de frequência para serviços de comunicação sem fio. A próxima edição acontecerá no Egito, entre os dias 28 de outubro e 22 de novembro, e será a primeira vez em que a conferência debaterá a destinação de faixas acima de 6 GHz para o serviço de telefonia móvel. O tema é importante por causa da chegada do 5G, que pretende usar as chamadas ondas milimétricas para serviços que requeiram altíssima velocidade e baixa latência em aplicações de missão crítica, tais como telemedicina, internet tátil e carros autônomos. Há grande apoio mundial em destinar as faixas de 26 GHz e 40 GHz para serviços móveis, mas há divergências quando se discutem os detalhes. Uma delas opõe Américas e Europa: trata-se da definição do limite de potência na faixa de 26 GHz, de forma que não haja interferência sobre serviços de satélite em frequências próximas. Enquanto a Europa propõe um limite de -42 dB (W/200 MHz), que geraria uma banda de guarda de 1 GHz, as Américas fecharam posição em defesa de um limite bem menor, de -28 dB (W/200 MHz), que favoreceria a indústria móvel.

“O estabelecimento desse limite será a grande polêmica da conferência. A discussão deixou de ser técnica e virou política”, comenta Luciana Camargos, diretora de espectro futuro da GSMA, em conversa com Mobile Time.

Em agosto passado, em reunião da Comissão Interamericana de Telecomunicações (Citel), os governos das Américas concordaram em defender na WRC-19 o uso das faixas de 26 GHz e 40 GHz para serviços móveis e o limite de -28 dB (W/200 MHz) em 26 GHz. África e países árabes estão praticamente alinhados com as Américas, propondo um limite de -32 dB (W/200 MHz). A Ásia não fechou posição.

Na WRC, as decisões costumam ser tomadas por consenso, depois de longos debates. Somente se não for obtido consenso é que acontece uma votação. Neste caso, cada país tem direito a um voto. Os eleitores em geral são funcionários de órgãos reguladores ou de ministérios governamentais. É a Anatel quem representa o Brasil na WRC.

Impacto

Como argumento em favor da indústria móvel, a GSMA produziu um estudo prevendo o impacto econômico da destinação das faixas milimétricas para o 5G. De acordo com a entidade, entre 2024 e 2034, a adoção do 5G nessas faixas de frequência vai gerar um aumento de US$ 565 bilhões no PIB mundial, sendo US$ 21 bilhões na América Latina.

Apesar da resistência europeia, Camargos se mostra otimista em relação ao que será decidido na WRC-19. “Nos últimos três anos e meio a GSMA trabalhou ativamente na preparação para essa conferência, tanto em âmbito global quanto junto à delegação brasileira. Nossa visão para a conferência é bastante otimista”, comenta.

 

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