Meios de Pagamentos - Shutterstock

O protocolo 3DS 2.0 terá o seu primeiro caso de uso massivo na Black Friday deste ano no Brasil. A indústria de meio de pagamentos aproveitará a data especial de vendas para incentivar a adoção da tecnologia, que permite o uso do débito online, além da redução de fraudes e chargeback. De acordo com relatório divulgado pela Abecs, que coordena os esforços do setor, a entrada do débito no online pode impulsionar o comércio eletrônico com uma movimentação próxima de R$ 160 bilhões ao ano.

“O nosso objetivo na Black Friday é o 3DS 2.0 funcionar bem. O novo coronavírus ampliou o market share do e-commerce no comércio total. A implementação do débito online traz um grupo novo que não comprava antes, pois o e-commerce era focado em crédito. O 3DS 2.0 aumenta a aprovação de compra”, disse Edson Ortega, líder do grupo de trabalho de 3DS 2.0 da Abecs e diretor executivo de risco da Visa.

De acordo com o executivo, a crise do novo coronavírus e a necessidade da evolução nos pagamentos não presentes deram “um empurrão” para a utilização do 3DS 2.0: “Juntamos um grupo de emissores, credenciadores e comércio, e agora estamos fazendo um projeto coordenado”, disse Ortega.

Atualmente menos de 1% das transações não presentes acontecem por débito; no crédito esse volume é próximo de 30% do total das operações.

Como funciona

No modelo traçado pela associação, o 3DS 2.0 checará 99 inputs de dados e mais o score financeiro do consumidor (em tempo real) para confirmar a identidade do usuário, são dados como número do cartão e a identidade do dispositivo. Para 100% das transações com 3DS 2.0 no débito haverá a necessidade de confirmação com senha. Nas compras com crédito e o protocolo não precisarão de averiguação.

Além dos benefícios de redução de fraude e abandono do carrinho, Tulio Gambogi, (que atuava na Adyen na época da entrevista), diretor de e-commerce do Santander, afirmou que esse protocolo de segurança trará duas revoluções ao Brasil:

  1. trazer os cartões de débito para o e-commerce;
  2. e reduzir a fricção nos pagamentos eletrônicos.

“Checagem já ocorre por SMS ou token. São coisas que o brasileiro está acostumado pelos bancos. Isso abriu uma porta para um oceano azul em débito. E quando chegou a Covid-19 nós estávamos ativos. Nós já éramos a principal adquirente com débito online. Entre fevereiro/março a maio, houve crescimento de 20% em transações de débito e crédito. Lançamos com a Via Varejo e a Dafiti o 3DS 2.0. Na Via Varejo teve a utilização nas transações de crédito, ou seja, ela não passa por chargeback e reduz o chargeback da varejista”, completou Gambogi.

Ecossistema

De acordo com as bandeiras Visa e Mastercard, dos principais difusores do 3DS 2.0 no Brasil, ao menos 12 grandes varejistas possuem o 3DS 2.0 em suas bases. Segundo Hugo Costa, country manager do Cybersource Visa, a maior parcela de comerciantes com o protocolo de segurança entrou a partir de março de 2020, novamente, devido ao contexto da crise do novo coronavírus.

“Entraram segmentos de conteúdo digital (streaming), eletroeletrônicos, itens de casa, vestuário, carteira eletrônica, calçados, supermercado, delivery, telecom, Internet. Vamos alcançar uma parcela da população brasileira que não tinha acesso ao online por não ter crédito”, disse Costa. “Minha crença é que uma vez feita essa mudança, ela não volta atrás. É um acelerador que deixa um legado positivo, uma modificação de hábito”.

Por sua vez, Felippe Galeb, diretor de cyber & intelligence solutions da Mastercard Brasil, explica que, do ponto de vista dos bancos, todos os parceiros da bandeira utilizam ou estão em processo de implantação da tecnologia: “Nossos parceiros acreditam nos benefícios da autenticação, tanto para liberar o pagamento via débito online, quanto para ter um controle mais assertivo no risco de fraude”, relata.

Desafios

Por sua vez, os bancos veem com outros olhos o 3DS 2.0. Em conversas mantidas em sigilo, uma pessoa próxima ao tema disse que o avanço da tecnologia foi “fraco” e “devagar” em 2020, uma vez que poucos varejistas aderiram ao protocolo neste ano.

Para Marcelo Marques, diretor de desenvolvimento de negócios da Elo, existe uma questão de falta de cronograma e cultura por parte dos varejistas: “O comerciante quer vender mais. A hora que você chega com uma solução, os players querem pilotá-la, mas nenhum implementou e saiu 100% no primeiro dia. Eles ligam a operação, testam fricção e acompanham se reduz o abandono do carrinho. Tem uma questão de ‘ver para crer’, ver se os índices de fraude e de abandono do carrinho diminuem. Na Black Friday e no Natal, poucos varejistas topam fazer esse teste”, completou Marques.

Pelo lado da Abecs, Ortega explica que, por ser um “protocolo pesado”, há barreiras e desafios. O líder do grupo de trabalho da associação compara a entrada do 3DS 2.0 à adesão dos chips de cartões que substituíram as tarjas eletrônicas; lembra que a tecnologia de chip demorou 15 anos para ser implementada.

Outro desafio citado é um dos principais atrativos no 3DS 2.0: o crescimento das vendas por meio de dispositivos móveis, uma vez que parte dos 99 inputs de dados são por handsets. Para Gambogi, da Adyen, nem todos os comerciantes estão prontos para a tecnologia 3DS 2.0 e para avançar no comércio móvel.

“Arriscaria dizer que os varejistas prontos são os mais ligados à tecnologia. Temos varejistas que são verdadeiros ‘Titanics’ com sistemas legados de décadas. Os varejistas mais novos são os first movers, os early adopters. Mas isso muda. No momento em que uma tecnologia dá certo, esse cenário muda. Um caso é a Via Varejo. Ou seja, basta o varejista querer e ter um fornecedor que o auxilie”, afirma.

Aderentes

O Mobile Time conversou com dois dos players que aderiram recentemente ao 3DS 2.0 para entender suas expectativas com a tecnologia, Ingresso.com (Android, iOS) e RecargaPay (Android, iOS), sendo que ambas começaram com a Adyen.

Pelo lado da tiqueteira, o CTO Roberto José explicou que um dos principais atrativos são os clientes do débito, uma vez que 38% dos seus consumidores compraram por este meio em 2019: “Esse número expressivo é um indicador da importância para o cliente de ter uma opção cômoda, simples e segura de garantir os ingressos antecipados com cartões de débito online”, afirmou José.

“Sabemos que tanto o site quanto o aplicativo serão beneficiados pela diversificação das opções para os clientes. No entanto, entendemos que o nosso site é a principal porta de entrada para os novos clientes. Consumidores que ainda não possuem um histórico de compra recorrente conosco acabam realizando as primeiras compras pelo site”, completou.

Por sua vez, a carteira digital Recarga Pay registrou R$ 3 milhões em transações com o 3DS 2.0 até junho deste ano, e vê oportunidade na proteção e no combate à fraude. Isso aconteceu pelo fato da vasta maioria dos usuários já usarem o débito para transferir o dinheiro do Auxílio Emergencial ou recarregar crédito no Bilhete Único ou pré-pago do celular, como explicou Fernando Velicka, vice-presidente de pagamento digitais da companhia.

“Ter a possibilidade de fazer a autenticação da pessoa gera uma credibilidade que antes não havia. Isso é positivo e reduz a fraude. Dá proteção para o pagador, ao meio pagamento e ao banco. Temos o fato de que as pessoas estão usando o benefício (Auxílio Emergencial) para pagar contas, mas também vemos forte crescimento em recarga de celular, e a recarga de bilhete volta a crescer”, disse Velicka.

Segundo Galeb, durante o teste piloto em alguns varejistas brasileiros, há redução entre 70% e 100% de fraude e chargeback com 3DS 2.0.

 

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