A Visa está apostando em uma plataforma de gestão de ativo tokenizado para avançar na próxima geração de pagamentos. Batizada como Visa Tokenized Asset Platform (VTAP), o vice-presidente de produtos e inovação da bandeira, Fernando Amaral, confirmou que a solução está disponível para bancos e para o ecossistema financeiro usarem em sandbox.
Criada dentro do arcabouço tecnológico da empresa, a VTAP funcionará como o nó do banco ou fintech que se conectará ao nó que o Banco Central terá no Drex, por exemplo. Inicialmente, a solução foi dividida em duas partes:
- Uma solução de tokenização para transferência, geração e queima de passivos bancários comerciais, gestão de contratos inteligentes, viabilização de interoperabilidade entre os bancos participantes;
- Infraestrutura de interoperabilidade para operar múltiplas moedas, fazer pagamentos em diferentes redes, interoperabilidade para operação transfronteiriça e a liquidação atômica (protocolo de liquidação interbancária para garantir que todas as etapas da transação sejam executadas) entre as contrapartes usando infraestrutura programável.
Algumas dessas funções estão em uso pela XP no consórcio firmado com a Visa para o desenvolvimento da CBDC brasileira. O VP da bandeira lembra ainda que, além do Brasil, a companhia está participando do desenvolvimento de moedas digitais dos bancos centrais de outros 40 países.
Estratégias
A solução do VTAP busca atacar principalmente o trilema que o Banco Central brasileiro viu no Drex (descentralização, programabilidade e privacidade), além da liquidação atômica.
Sobre os problemas recentes apontados por executivos da Caixa e da Exa, como usabilidade e estratégia de negócios, Amaral afirmou que esta é a base estrutural das três grandes dores da economia tokenizada neste momento. E que, portanto, ainda há muito a ser feito.
Nessa estratégia, o VP da Visa reforça que apesar de ter 60 anos de expertise tecnológica e uma rede própria, a companhia sabe que a economia baseada em tokens não dependerá de apenas uma rede. Por isso apostam em oferecer tecnologia e interoperabilidade.
“A questão aqui é muito mais gerar valor que ser um intermediário (uma rede). Se gerar valor, a empresa consegue sustentar o modelo de negócios. Se não gerar, o negócio vai morrer. Isso acontece com qualquer companhia”, disse Amaral. “Nós entendemos que o principal é gerar valor. Não importa se será rede própria, compartilhada. Nós acreditamos que tem um espaço gigantesco para o que está sendo criado. O papel da Visa se expande”, completou Amaral.
Casos de uso
Entre os casos de uso que a Visa lista com o VTAP e a economia tokenizada estão:
- Meios de pagamentos com a conexão entre diferentes mercados e ativos de Blockchain para gerar mais liquidez e eficiência de capital;
- Movimentação transfronteiriça de fundos com o Blockchain funcionando como camada de coordenação para ter a liquidação atômica em qualquer dia e qualquer horário;
- Finanças programáveis para automatizar a assinatura de contratos financeiros e eliminar processos para trazer eficiência operacional.
Em meios de pagamentos, a bandeira visualiza novos fluxos de pagamentos, combinação de fluxo de dados e fluxo de fundos em uma única trilha para melhorar o fluxo de caixa de empresas.
Em movimentação transfronteiriça, o alvo são financiamentos comerciais e pagamentos B2B transfronteiriços com remessas de valores e pagamentos internacionais, além de poder gerir a tesouraria de uma corporação de maneira multinacional. Aqui, Amaral acredita que as transações entre países podem ser democratizadas e ficar mais claras com a chegada de usuários que não fazem parte desse ecossistema, mas reforçou que isso será um trabalho de longo prazo.
Em finanças programáveis, a bandeira acredita que a tokenização permitirá a oferta de soluções de crédito tokenizado para produtos agrícolas, empréstimos sindicados com contratos inteligentes com cálculo automático de juros e dividendo e empréstimos com aplicação automática de condição desembolso.
Um exemplo citado por Marcela Pinori, diretora executiva de soluções comerciais da Visa, é a Agrotoken, a startup argentina que atua com tokenização de grãos agrícolas: “Eles entram como uma camada intermediária para melhorar a eficiência do agricultor”, disse.
“Hoje, o produtor agrícola tem dificuldade de dar a produção dele como garantia (de empréstimo), uma vez que ele coloca aquela garantia para o banco, o agricultor reserva 100% da produção dele para o banco”, explicou Pinori. “Quando o agricultor tokeniza a sua produção com o AgroToken, ele consegue fracionar a produção e conseguir crédito”, explicou, ao lembrar que a AgroToken está em processo de mudança para se tornar Just Token, uma empresa que visa tokenizar outros ativos.
Imagem principal: vice-presidente de produtos e inovação da bandeira, Fernando Amaral (divulgação)