Ter alguém para ficar com a filha ou com o filho para uma entrevista de emprego, um treinamento que surgiu de repente ou apenas para ir ao cinema e ter um breve momento sem crianças nem sempre é simples. Quem não tem babá para cuidar dos pequenos depende dos avós e tios, mas eles também podem estar ocupados. Então, qual a solução? Depois que a caçula completou um ano, Luciana Pereira cortou um dobrado para ter alguém para ajudá-la a ter esses momentos. Sem família por perto e morando em São Paulo, ela e o marido, Taric Andrade, acabaram desenvolvendo o aplicativo ClickSitter (Android, iOS). A solução tem como princípio selecionar criteriosamente as babysitters. Só são aceitos profissionais educadores ou enfermeiras. No app, pais e mães resolvem todos os trâmites da contratação temporária, inclusive o pagamento.
O aplicativo funciona por geolocalização. Assim, o “match” entre cuidador de criança e mãe/pai será por proximidade. Uma pessoa insere quando precisará de uma babysitter e qual horário, e, com a informação, o app faz a busca. Em seguida, aparecem as profissionais que estão num raio de 10 quilômetros de onde será o atendimento. Nesse momento, os dados apresentados às babás são: CEP de onde será o trabalho, quantidade de crianças, idades e horário. Assim, ela é capaz de definir o preço.
Já do lado da mãe e do pai, chega até eles o currículo da profissional. Nele, constam: sua formação acadêmica, tempo de experiência, avaliações sobre elas escritas por outros pais, além do valor cobrado por hora e do valor da porcentagem da ClickSitter. Caso a mãe seja assinante, não é preciso pagar nada. Mas se for um usuário avulso, sem assinatura, paga 20% de comissão para a startup, limitado a um valor mínimo de R$ 10 e máximo de R$ 30.
“Geralmente, quem procura recebe propostas de mais de uma babysitter. Depois da escolha, os dois lados podem se comunicar, inclusive por telefone, quando os números são liberados para ambos os lados. No fim do atendimento, a profissional irá finalizar o serviço, e o responsável irá concordar. Ela receberá o valor em sua conta PayPal e a mãe faz a avaliação”, resume a fundadora e COO, Luciana Pereira.
Crescimento orgânico
O primeiro atendimento realizado pela ClickSitter aconteceu em janeiro de 2016, em São Paulo. “Foi com um bebê de oito meses, nunca vou me esquecer”, lembra Pereira. Desde então, a startup cresceu em São Paulo e expandiu para outras cidades da região da Grande São Paulo, mas também Santos, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
“Nosso crescimento em 2018 foi orgânico, mas não foi o que esperávamos. Precisamos trazer mais tração para poder expandir para outras cidades em 2019”, conta a COO, que planeja para este ano incluir Belo Horizonte, Campinas, Recife, Salvador, Curitiba e Campo Grande no aplicativo. Mas, para isso, precisa ter, pelo menos, cinco cuidadoras de crianças por cidade.
Números e financiamento coletivo
O app conta com 9 mil cadastrados, sendo um 1 mil ativos mensais, ou seja, pagantes da assinatura (R$ 60 por mês), e possui 2 mil downloads por mês. São 250 educadoras habilitadas no aplicativo. O uso do feminino é somente porque não há homens, atualmente, no cadastro. Porém eles são aceitos na plataforma.
Para aumentar os números, Taric e Luciana decidiram partir para um crowdfunding. Mais do que arrecadar o dinheiro, a ideia é dar visibilidade ao serviço. “Estamos mudando o modelo de negócio para assinaturas mensal e anual porque é isso que acreditamos que fará a gente crescer”, explica Pereira. No site do Kicante, a ClickSitter pede R$ 15 mil e oferece uma opção de assinatura vitalícia de R$ 150. É possível fazer essa assinatura também pelo site da empresa. Vale lembrar que a assinatura não inclui o valor da profissional.
Aceleração no Canadá
Depois de três anos no mercado, Pereira e Andrade foram para o Canadá em março de 2017 para participarem de um programa para startups latino-americanas. No fim do processo, em setembro do mesmo ano, foram aprovados em um outro programa, dessa vez de aceleração pela Launch Academy, em Vancouver. Voltaram para o Brasil apenas para organizarem a vida e, em junho de 2018, retornaram ao Canadá. “Estamos terminando a aceleração e vamos lançar a ClickSitter aqui”, conta Pereira. O app estará disponível para o canadenses de Vancouver a partir desta quarta-feira, 6.
“Foram três meses de versão beta e sentimos uma abertura para o nosso produto ainda maior do que no Brasil. Já temos algumas babysitters e clientes. É interessante porque, aqui, o mercado é mais maduro. Existe essa cultura de contratar pessoas qualificadas para prestarem o serviço de cuidadoras de crianças. Eles fazem até de forma online, mas não por aplicativo. Isso é inovador por aqui. E acham ótimo quando dizemos que o pagamento é feito dentro do aplicativo. No Canadá, o pagamento desse tipo de serviço ainda é em espécie”, conta a COO.
Seleção rigorosa
O aplicativo aceita apenas educadoras ou enfermeiras. “Quando pensamos no serviço, sempre pensávamos nas nossas crianças. Não queríamos entregá-las a pessoas sem capacitação”, conta Pereira. A ideia é que sejam pessoas qualificadas para cuidar das crianças de um jeito diferente – prezando o entretenimento e uma proposta pedagógica. No caso das enfermeiras, elas são importantes para cuidar de crianças que necessitam de um cuidado especial – como manipulação de medicação ou para bebês. “É comum fazermos atendimento para crianças recém-nascidas. Há momentos em que a mãe quer dormir um pouco mais ou simplesmente tomar um banho”, conta Pereira.
A COO usou toda sua experiência como diretora de RH para elaborar o processo de seleção dessas profissionais. Por isso, babá precisa passar por várias etapas. A primeira delas é um teste de aptidão online. Se passar, ela envia suas informações profissionais, como carteira profissional, certificados, referências etc. O terceiro passo é a entrevista, feita por recrutadoras de forma presencial ou por vídeo conferência. Na quarta etapa verifica-se suas referências e antecedentes criminais. Por fim, é feito um treinamento online. E cada etapa é eliminatória. Não à toa que, de 100 babysitters, apenas oito conseguem ser aprovadas. Mais da metade é eliminada logo no teste. “É um teste simples, de múltipla escolha. Elas não passam por falta de interpretação de texto”, resume Pereira.
“A gente exige que ela tenha formação acadêmica e experiência em pedagogia ou na área de saúde. Quando penso na expansão no Brasil, a gente acaba questionando algumas coisas. Mas mantemos firme nesse propósito. Pode ser que no futuro mude. Mas, até agora, tem dado super certo. Além do mais, e essa é uma vitória, gente consegue manter as profissionais de pedagogia na sua profissão. Por conta dos salários baixos, muitas desistem e vão para outras áreas. Mas, conosco, ela pode ganhar R$ 300 reais num atendimento. E isso pode dar R$ 1,2 mil por mês, se ela fizer quatro iguais a esse por mês. Esse foi um retorno que nos surpreendeu, mas nos enche de orgulho e alegria”, conta.