Muita gente descobre sua vocação por fotografia com as câmeras de seus celulares, para depois estudar o assunto e explorar máquinas mais sofisticadas. Com a fotógrafa Ana Kemper foi o inverso: há 12 anos ela começou a usar câmeras com filme, depois passou para digital e logo se rendeu à praticidade do celular, primeiro com um Nokia N95 e agora com um iPhone. "Para fotos de rua uso mais o celular, porque é portátil e está sempre à mão, onde eu estiver. Isso me dá mais agilidade. Com uma câmera fotográfica, acabo perdendo a foto por causa do tempo que leva para tirar o equipamento da mochila", relata Ana. Ela faz parte de um novo grupo de fotógrafos que usam prioritariamente o celular como meio de captura de imagens. Existe até um nome para eles: os "iPhoneógrafos". Um conjunto de dez fotos tiradas e editadas por Ana em seu iPhone fazem parte da exposição "Cidade incidental", aberta ao público até o dia 31 de outubro, no Memorial Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
As fotos de Ana mostram pessoas anônimas, quase sempre borradas ou sem rosto, em movimento pelo Rio de Janeiro. Em todas as obras há sempre duas imagens sobrepostas, cuja edição foi feita no iPhone. "Trabalho a questão do fluxo na cidade, seu movimento", explica. Nesse contexto, a técnica de sobreposição de imagens contribui para a transmissão da ideia de fluxo, ou da presença de várias camadas do cenário urbano, como diz Ana.
Apesar de as fotos terem sido tiradas no Rio de Janeiro, a artista entende que a capital fluminense não é o foco principal de suas obras. Ou seja, não se trata de crônicas visuais do Rio. Ela entende seu trabalho mais como universal do que local. "Não é uma exposição sobre o Rio. Essas fotos poderiam ter sido tiradas em qualquer lugar, mas o Rio é onde eu moro", comenta. E acrescenta que o uso da sobreposição de imagens teve também o objetivo de evitar um ar de fotografia documental. "O Rio já foi muito fotografado", avalia.
Lente do iPhone
A exposição contém fotos tiradas com iPhone 3GS e 4S, todas com ampliações de 40 X 40 cm. Ana admite que a câmera do 3GS deixa a desejar. "Mas os filtros ajudam a corrigir a baixa resolução", diz. E argumenta: "A câmera não interessa. O que importa é o seu olhar, o seu discurso, como diria o filósofo Vilém Flusser".
Questionada se o termo "iPhoneógrafo" poderia ter uma conotação pejorativa, como se não se tratasse de fotografia propriamente dita, Ana responde: "pelo contrário, acho que é preciso tomar cuidado para esse termo não soar besta."
Além da exposição atual, Ana faz parte do grupo "Infinito coletivo", formado por oito mulheres fotógrafas, cujas imagens são publicadas por um perfil homônimo no Instagram. Para quem quiser conhecer mais sobre as técnicas da artista, Ana preparou uma seleção de quatro apps de fotografia, publicada em Mobile Time.
A exposição "Cidade incidental" tem entrada gratuita e está aberta de segunda à sexta-feira, das 10h às 17h. O Memorial Getúlio Vargas fica na Praça Luís de Camões, s/n, na Glória, Rio de Janeiro.