O título deste artigo é provocativo para estimularmos uma melhor reflexão sobre as projeções realizadas pelo uso da IA em algumas áreas.

A declaração feita pelo CEO da AWS, Matt Garman, que o uso de inteligência artificial no desenvolvimento de software pode levar a extinção dos desenvolvedores em dois anos, é pura alucinação e precisamos ter sobriedade ao refletir sobre um tema tão sensível que mexe com o futuro de milhares de profissionais.

Em evento ao seu staff, o CEO da AWS disse que o fim dos desenvolvedores está muito próximo e aconselhou seus engenheiros de software a se qualificarem e aprenderem novas tecnologias, alertando que a IA poderá substituir seu trabalho com linguagens de programação dentro de apenas dois anos. Ou seja, depois de amanhã.

Em uma coisa, Matt Garman tem razão: os engenheiros de software devem se qualificar e aprender novas tecnologias. No mais, apenas alucinações. A inteligência artificial já é e continuará sendo uma grande aliada do trabalho dos desenvolvedores. E é bom ficar bem claro que a IA é filha legítima desses desenvolvedores e ela necessita de ações no prompt para operar.

A IA avançará cada vez mais no apoio à codificação realizada pelos desenvolvedores, mas o aumento de demanda por digitalização dos negócios, a escassez de desenvolvedores e a complexidade de todo o ciclo de desenvolvimento, que vai desde a concepção do sistema aos testes finais, nos dá plena garantia que estamos muito, mas muito longe de ver a extinção dos desenvolvedores em tão pouco tempo.

A alta demanda por digitalização dos negócios vem cada vez mais abrindo mercado para ferramentas low code que facilitam o trabalho de criação de soluções de software e que vem aproximando cada vez mais os usuários finais da criação de soluções, mas mesmo assim exige um perfil de desenvolvimento tanto na criação dessas soluções, como na própria criação da ferramenta de low code.

Ou seja, ainda há muito mercado e muita demanda por desenvolvedores reais.

A IA tem auxiliado neste e em outros trabalhos, mas está longe de substituir o cérebro humano. Ela é excelente opção para codificar milhões de linhas de códigos e de digitação que, realmente, tomam tempo do desenvolvedor, que pode agora pensar nos negócios e ajudar mais sua organização a criar mais e melhores produtos de software.

Mesmo assim, hoje, apenas cerca de 5% dos engenheiros de software utilizam ferramentas de GenAI para auxiliar na codificação, segundo a consultoria Gartner, que ainda prevê que até 2027 – daqui a três anos, portanto, 50% dos engenheiros de software corporativos usarão ferramentas de codificação baseadas em machine learning. Nesta linha, a projeção de dois anos do CEO da AWS se confirma como pura alucinação.

Eliminando complexidades

Quem já utiliza a IA como apoio ao desenvolvimento de software sabe que ela é útil para diminuir o tempo de execução de tarefas como documentação, geração de código e refatoração. Este tema foi assunto tratado por uma pesquisa realizada pela McKinsey, que revelou que as tarefas de codificação podem ser até duas vezes mais rápidas com IA generativa, mas ela ainda não consegue lidar com tarefas complexas.

Ainda assim, será necessário mais do que ferramentas para explorar todo o potencial desta tecnologia disruptiva, segundo a McKinsey. A economia de tempo com a codificação por IA pode variar significativamente com base na complexidade da tarefa e na experiência do desenvolvedor.

Mudanças de paradigma?

Estamos de acordo com CEO da AWS na afirmação que a mudança não significa que os desenvolvedores perderão suas funções, mas haveria uma mudança no conjunto de habilidades para um trabalho mais valioso para o negócio. É nisso que os desenvolvedores devem investir com o apoio da IA: pensar mais e codificar menos. Deixar o trabalho braçal para ela e se dedicar ao que interessa: projetar bons produtos de software alinhados com os negócios e interesses dos usuários.

Aliás, essa mudança já ocorre há décadas com desenvolvedores que se utilizam de plataforma low code que em certo nível já facilita muito o trabalho de codificação e os torna mais próximos do negócio do que da tecnologia.

Voltando à provocação do título, estima-se que o Sol deverá se apagar daqui a 5 bilhões de anos. Certamente, a Terra morrerá antes, cerca de alguns bilhões antes. É difícil prever, mas ainda haverá desenvolvedores de software com tempo suficiente para nos entregar boas soluções.