O peso das obrigações regulatórias influenciou, mas não foi o único fator que levou a Porto Seguro a decidir encerrar sua atuação como operadora móvel virtual (MVNO, na sigla em inglês). Pelo menos outros dois motivos contribuíram fortemente: os elevados custos da operação e uma revisão estratégica realizada pela companhia. É o que pensam quatro fontes do setor de telecom entrevistadas por Mobile Time esta semana.

Para atender as exigências do modelo de MVNO autorizada, a Porto Seguro investiu pesado em uma infraestrutura de telecom que ela não tinha até o momento. “Era uma minioperadora, ou uma operadora light. Só não tinha as antenas”, comenta uma fonte. “Compraram uma série de plataformas, pagaram caro por isso. Era um sonho de verão que virou pesadelo de verão”, diz outra fonte familiarizada com o assunto. Para uma terceira fonte, a Conecta pagou o preço de ter sido a pioneira em MVNOs no Brasil, tendo surgido em uma época em que ainda não havia uma oferta estruturada de MVNEs (Mobile Virtual Network Enabler) como há hoje. Portanto, no seu caso, o pesado investimento em Capex era o único caminho que havia disponível. 

Além dos custos com equipamentos, havia um elevado custo fixo com pessoal para a Porto Seguro garantir o atendimento premium que é a marca da empresa no setor de seguros. Por um lado, isso fez com que a Conecta fosse considerada por três anos seguidos pela Anatel a melhor operadora do País. Por outro, dificultava as contas a fecharem, mesmo sendo a MVNO com a maior base de linhas em serviço no Brasil, mais de 700 mil.

Some-se a isso o fato de a Porto Seguro não estar acostumada a atuar em um setor que requer capital intensivo, como o de telecom. Assim, a Conecta acabava sendo vista como um peixe fora d’água no grupo. “A MVNO não era o foco deles. Entrar em telecom para ser um negócio acessório não fica de pé”, comenta um executivo.

Diante disso tudo, a Porto Seguro fez uma revisão estratégica e decidiu se desfazer do ativo, propondo a migração dos clientes para a TIM, o que foi comunicado na última segunda-feira, 1.

Ingredientes para o sucesso

Para uma MVNO dar certo, as fontes recomendam que haja pelo menos um dos seguintes requisitos: 1) identificar um nicho específico de atuação no qual tenha um forte apelo; 2) já ter uma operação de telecom, adicionando mobilidade através de uma MVNO; 3) ter um expressivo canal de distribuição.”Mas não adianta ter todos esses ingredientes se não operar com baixo custo”, pondera uma das fontes. “E é fundamental adicionar valor ao consumidor. A MVNO tem que fugir da guerra de preços, pois vai perder sempre”, recomenda outra. 

Impacto

As fontes ouvidas por Mobile Time não acreditam que o fechamento da Conecta vá impactar negativamente o mercado brasileiro de MVNOs. Destacam que há outras empresas montando operações virtuais no País. “O que pode acontecer é talvez alguma rever sua opção pelo modelo de autorizada e trocar para credenciada”, comenta um executivo.

 

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