Nesta terça-feira, 5, a autora da denúncia contra o Facebook, Frances Haugen, ex-gerente de produto da empresa, pediu mais regulamentação para a rede social durante seu testemunho no Congresso dos Estados Unidos para senadores do subcomitê de comércio em uma audiência de segurança na Internet. A audiência foi motivada por um relatório do Wall Street Journal que revelou que o Facebook havia abandonado sua própria pesquisa sobre o impacto negativo do Instagram nas crianças.
Haugen disse aos legisladores que o Facebook intencionalmente visa adolescentes, incluindo crianças menores de 13 anos, apesar de não ser permitida a entrada de menores de 13 anos nas redes mídias sociais.
A ex-funcionária disse que não acredita no Facebook quando afirma que está suspendendo o Instagram Kids, sua plataforma para jovens usuários que tem sido amplamente criticada. “Eu ficaria sinceramente surpresa se eles não continuassem trabalhando no Instagram Kids”, disse na audiência.
A autora da denúncia contou ainda que o Facebook enganou o público “repetidamente” sobre “o que sua própria pesquisa revela sobre a segurança das crianças e a eficácia de seus sistemas de inteligência artificial como um papel na divulgação de mensagens diversivas e extremas”.
Haugen insistiu para que o Congresso tome medidas regulatórias para mudar o fato de que o negócio da companhia não seja beneficiado pela amplificação de conteúdo prejudicial a seus usuários. Ela também encorajou os legisladores a pressionar por mais transparência na empresa para lidar com seu “design fechado”.
“Esses problemas têm solução. É possível termos uma mídia social mais segura e que respeite a liberdade de expressão”, disse. “O Facebook pode mudar, mas claramente não vai mudar por conta própria”, complementou.
Dividir a empresa?
Haugen disse ao senador Todd Young (Republicano-Indiana) que era contra dividir a companhia a partir de sua perspectiva como especialista em algoritmos. “Mesmo olhando para dentro do próprio Facebook. Você vê os problemas com a classificação baseada no engajamento se repetirem. Nossos problemas aqui são sobre o design de algoritmos, de IA e a ideia de que IA não é inteligente”, explicou. “Se você separar o Facebook e o Instagram, a maior parte do dinheiro em publicidade vai para o Instagram, e o Facebook continuará a ser esse Frankenstein que está colocando vidas em risco em todo o mundo”.
A ex-gerente de produto disse aos legisladores que o Facebook coloca constantemente seus próprios lucros acima da saúde e segurança de seus usuários, o que é em grande parte resultado do design de seus algoritmos que direcionam os usuários a postagens de alto engajamento que em alguns casos podem ser prejudiciais.
Em sua fala, Haugen explicou que o algoritmo do Facebook pode desviar os usuários jovens de algo relativamente inofensivo, como receitas saudáveis, para um conteúdo que promova a anorexia em um curto período de tempo. Ela propôs uma solução para o Facebook mudar seus algoritmos para parar de se concentrar na entrega de postagens que criam mais engajamento e, em vez disso, criar um feed cronológico de postagens para usuários do Facebook. Isso, disse ela, ajudaria o Facebook a fornecer conteúdo mais seguro.
Resposta
O Facebook se opôs diretamente ao testemunho de Haugen e às reportagens sobre sua fala no Congresso com os principais porta-vozes comentando e refutando no Twitter. A empresa disse que a ex-funcionária trabalhou por menos de dois anos, não tinha subordinados diretos e nunca compareceu a uma reunião de ponto de decisão”.
A diretora de comunicações de políticas da empresa, Lena Pietsch, apontou em um comunicado que em pelo menos seis vezes Haugen disse a senadores que não trabalhava diretamente no assunto de sua pergunta. “Não concordamos com suas descrições nas muitas questões sobre as quais ela testemunhou”, escreveu. E complementou: “Concordamos em uma coisa; é hora de começar a criar regras para a Internet. Em vez de esperar que a indústria tome decisões sociais que pertencem aos legisladores, é hora de o Congresso agir”.